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Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos

O Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, coordenado pelo Instituto O Direito por um Planeta Verde tem como meta fomentar o desenvolvimento de instrumentos regulatórios relacionados às mudanças climáticas nos países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, integrantes do Tratado de Cooperação Amazônica. LEIA MAIS

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13/07/2009

Os beneficiados pelas mudanças climáticas


Aquilo que alguns observam, na Argentina, como uma desgraça, é visto por outros como um benefício para os seus negócios. A maior concentração de carbono favorece a produtividade da soja. No sul, já há quem compre terras porque se tornarão aptas para a plantação de uvas.

A reportagem é de Cledis Candelaresi, publicada no jornal argentino Página 12, 10-07-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O início do acordo esboçado na cúpula de L’Aquila para evitar que o aquecimento global supere os dois graus promete evitar tragédias como o degelo glacial e a evacuação de todas as cidades costeiras do mundo, mesmo que não impeça o inevitável impacto das mudanças climáticas em marcha, o que significa mais chuvas e calor.

Mas esse processo que alguns veem como uma desgraça é visto por outros, na Argentina, como um benefício para os seus negócios, particularmente os produtores de soja. A maior concentração de carbono, responsável pelo efeito estufa, no Pampa Úmido pode aumentar a produtividade desse polêmico cultivo, paradoxalmente um dos mais contaminadores, em até 67%.

A geração de eletricidade com combustíveis fósseis e a agricultura, seguida pela flatulência bovina (portanto, do gado) estão entre as principais fontes de emissão de gases que exacerbam o aquecimento global neste canto do planeta.

Para evitar que a temperatura da Terra suba mais do que dois graus, é necessário reduzir em 50% a emissão de gases que a produção energética, a indústria, a agricultura e o transporte geravam em 1990, base para o Protocolo de Kyoto. Mas a discordância que os Estados Unidos mostraram ao aceitar essas pautas, pelo menos até a chegada de Barack Obama, e a explosiva industrialização da China e da Índia nos últimos anos são algumas das razões pelas quais esses pactos de cavalheiros podem se converter só em uma proclamação de boas intenções.

O que ficou consagrado na Itália é o afã de se impor como “meta desejável” que os países tomem medidas para frear o aquecimento global, mas ainda não há um compromisso firme nem autoridade internacional que possa sancionar quem não a cumprir. E mais: enquanto Washington quer tomar como base o ano 2005 para qualquer acordo, a Europa pretende que 1990 seja respeitado, base que torna mais duro qualquer pacto nesse sentido. Onde há consenso é na comunidade científica na hora de prognosticar uma elevação das precipitações e do calor planetário, com consequências diversas de acordo com as regiões.

A metamorfose em amadurecimento dessa mudança no clima faz com que alguns produtores de vinho previdentes, como os donos da vinícola Concha y Toro, estejam comprando, no sul da Patagônia local e chilena, terrenos para cultivar uva, prevendo que essa região se tornará apta para os vinhedos que agora só podem prosperar na região noroeste. Do mesmo modo, os agricultores do Pampa Úmido argentino poderiam ir projetando semeaduras futuras, com base no dado de que a região se tornará mais produtiva para alguns cultivos.

Tanto um trabalho do Instituto Nacional de Tecnologia Industrial (INTA) argentino, como um resumo elaborado pelo Met Office Hadley Centre, a pedido do Foreign & Commonwealth Office, identificam a soja como um dos produtos potencialmente beneficiados pelo que, para outros bens, pode ser uma circunstância infeliz. Tanto assim que os especialistas locais ligados ao governo não se atrevem a afirmar que o balanço econômico global para a Argentina será negativo. O calor e a umidade ameaçam diminuir o rendimento dos cultivos. Mas a obrigação de mais fotossínteses que a concentração de carbono impõe acaba estimulando o crescimento desses mesmos vegetais, mesmo que em proporções diferentes.

Segundo afirma o trabalho do INTA, o rendimento da soja pode diminuir 14% por causa do calor e da umidade, mas subiria 67% por causa da necessidade do vegetal de produzir mais oxigênio. No caso do milho, esses valores são de -9 e +19 e, no caso do trigo, de -4 e +14. Um quadro que animaria a aposta nessa oleaginosa. O lado perverso é que esse cultivo é um dos que tem maior poder de degradação do solo, ao mesmo tempo seu bom rendimento econômico fomenta o desmatamento em busca de novos terrenos para semeá-lo.

O outro foco de atenção ambiental são as fontes que geram os gases localmente que alimentam o aquecimento global. A principal delas é a produção de energia elétrica com usinas térmicas, que utilizam gás ou óleo combustível para funcionar: justamente a modalidade de geração de energia que mais se consolidou nos últimos tempos na Argentina. A outra é a agricultura, por causa das mudanças do uso do solo (na Argentina, só um terço dos bosques originais sobrevive) e por causa do emprego de fertilizantes nitrogenados.

Depois vem o gado, particularmente as vacas. Bois e vacas são uma eficiente fábrica de metano, liberando-o em grandes quantidades. A crise atual dessa atividade, que fundamenta reclamações ardentes das entidades ruralistas contra o governo por causa da notória diminuição da população bovina, poderia admitir, do ponto de vista ambiental, uma leitura positiva.

Fonte: Mercado Ético/ IHU On-Line


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