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Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos

O Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, coordenado pelo Instituto O Direito por um Planeta Verde tem como meta fomentar o desenvolvimento de instrumentos regulatórios relacionados às mudanças climáticas nos países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, integrantes do Tratado de Cooperação Amazônica. LEIA MAIS

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17/08/2009

Brasil precisa ampliar investimentos em meteorologia


Para minimizar prejuízos e perigos dos eventos climáticos extremos, que devem aumentar em número e intensidade com o aquecimento global, país precisa investir em equipamentos e pesquisas ligadas a previsão do tempo

Secas drásticas e chuvas torrenciais ocorrendo em paralelo a alguns quilômetros de distância já são sentidas em estados brasileiros como Santa Catarina e, com o aquecimento global, tais fenômenos devem se tornar mais freqüentes e intensos. Para minimizar os impactos humanos, sistemas eficientes de previsão meteorológica são imprescindíveis, porém o Brasil ainda precisa avançar para estar preparado para reagir ao que pode vir pela frente.

“Nossos radares precisam ainda de muitos investimentos. O Brasil não tem satélite meteorológico próprio e o que usamos (GOES) foi emprestado pelos EUA e será desativado no final do ano”, afirmou o coordenador do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do INPE, Luiz Augusto Toledo Machado, durante o seminário “Mudanças Climáticas e Desastres Naturais em Santa Catarina”, realizado na última sexta-feira (14).

Uma rede de radares é um instrumento básico da previsão imediata, explicou Machado, permitindo prever a curto prazo e mitigar os efeitos dos desastres naturais. “Sendo um país em desenvolvimento, sem muitos investimentos na área, nós estamos fazendo muita coisa. Mas por o país ser uma potência ecológica, ainda precisa de muitos investimentos.”

Hoje o Brasil tem cerca de 25 radares, enquanto que os Estados Unidos, por exemplo, tem 150. Machado disse ainda que os radares brasileiros não trabalham em rede e muitos nem compartilham os dados com outras instituições. Ele citou o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), usado para monitorar o espaço aéreo da Amazônia, que tem 10 radares, porém o qual não envia imagens em tempo real para a equipe do CPTEC/INPE.

Radares

A partir de um convênio, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) utiliza os dados dos seis radares da Aeronáutica, disponibilizando as informações na internet. “O princípio do INPE é que os dados sejam públicos e abertos. Esta é a melhor forma de se justificar qualquer investimento. Não adianta você investir em um radar, que custa R$ 2 milhões, e guardar o dado para você, não passá-lo para ninguém”, destacou em entrevista para a CarbonoBrasil.

Por isso, Machado ressaltou a importância de um sistema nacional de meteorologia coordenado pelo governo federal. “Há uma proposta de emenda constitucional (PEC) em tramitação no Senado que prevê que a meteorologia seja responsabilidade do Estado”.

Neste caso, seriam mantidas as estruturas dos diversos centros, porém eles seriam integrados, proporcionando comunicação entre as diversas redes em funcionamento.

Outros investimentos importantes seriam satélites meteorológicos, melhorias na infra-estrutura local e sistemas de computadores velozes para pesquisas regionais. “Se a gente quer ser liderança, temos que fazer pesquisa e estar na vanguarda. Para isso, precisamos uma boa instrumentação, com navio oceanográfico de medida e aeronave laboratório, coisas que não temos”, disse Machado.

Os custos para melhorar a infra-estrutura de meteorologia nacional são da ordem de R$ 750 milhões, estimou Machado, sendo cerca de R$ 500 milhões para satélites.

Machado ressaltou que o Brasil já deveria ter um satélite geoestacionário, pois além da importância para previsões internas, ele representaria uma vantagem estratégica nas relações internacionais. Como ele cobre toda a América do Sul, o Brasil poderia repassar informações para os vizinhos.

“Mas é uma questão de investimento. Um satélite não é algo que se compra na prateleira. Ele demora uns 4 ou 5 anos para voar. Então é preciso haver uma visão de longo termo, estruturada. O Brasil está trabalhando nos planos plurianuais, mas as demandas são enormes e o país ainda não achou um espaço que essa questão possa entrar”, comentou.

Investimentos estaduais

A mesma opinião é compartilhada pela coordenadora de Meteorologia do Centro de informações de Recursos Ambientais de Hidrometeorologia de Santa Catarina (CIRAM) da Epagri, Maria Laura Rodrigues. “Não dá para fazer previsão sem tecnologia. Precisamos investir em pesquisas e centros operacionais”, afirmou também durante o seminário.

Maria Laura disse que o estado, normalmente já propenso a eventos climáticos, tem muito a melhorar no monitoramento e na disponibilidade de instrumentos, assim como pessoal para operar 24 horas. “No monitoramento costeiro, não temos medição do nível do mar e as ressacas são algo comum por aqui”.

Entre 1999 e 2008, Santa Catarina enfrentou excessos e déficits de chuva intercalados em um mesmo ano, com pelo menos dois meses de estiagem seguidos em cada ano. Entre setembro e novembro de 2008, foi registrada seca no oeste catarinense ao mesmo tempo em que houve excesso de chuva no litoral, culminando nos deslizamentos, enchentes e enxurradas que causaram destruição principalmente no Vale do Itajaí. A cidade de Blumenau, a mais afetada, chegou a ter o dobro da chuva prevista para um mês inteiro em um único dia.

O alto volume de chuva em poucos dias tem aumentado nos últimos 70 anos. De 1981 a 2004, por exemplo, foram registrados 41 casos de mais de mil milímetros em apenas dois dias em Blumenau, enquanto que de 1961 a 80 foram 23 e, de 1940 a 1960, 20 eventos climáticos com tais características.

Mas Maria Laura ressaltou que alguns fatores precisam ser levados em consideração antes culpar as mudanças climáticas por tragédias climáticas, como o fato de que chuvas e enchentes ocorrem há séculos, com séries históricas de curta duração, as alterações no microclima causadas pela densidade urbana e o aumento da vulnerabilidade de algumas áreas devido ao processo de ocupação humana.

Machado também chamou a atenção para esta questão, apresentando como exemplo da ocupação indevida do solo uma pintura de Benedito Calixto do século XIX retratando a Várzea do Carmo alagada, região que agora é o centro de São Paulo. “De 1975 a 2006 vemos o aumento crescente dos desastres naturais. Isto associado ao uso indevido do solo se torna um perigo para a sociedade”.

Por: Paula Scheidt
Fonte: CarbonoBrasil


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