Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos
O Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, coordenado pelo Instituto O Direito por um Planeta Verde tem como meta fomentar o desenvolvimento de instrumentos regulatórios relacionados às mudanças climáticas nos países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, integrantes do Tratado de Cooperação Amazônica. LEIA MAIS
04/11/2009
Boicote africano atrasa negociação sobre cortes de emissões
Insatisfeitos, representantes dos países africanos boicotaram ontem sessões da conferência do clima de Barcelona. A ausência deles fez com que fosse suspensa uma negociação que já não vinha nada bem.
O problema só foi contornado à noite, e ainda assim de maneira provisória. Os africanos aceitaram voltar hoje às reuniões. Mas deixaram claro aos países europeus que podem abandonar a sala de novo se as coisas se desencaminharem.
Representantes dos países africanos boicotaram ontem sessões da conferência do clima de Barcelona devido a insatisfação com metas
A insatisfação africana gira em torno de um número: quanto os países desenvolvidos vão se comprometer a reduzir das suas emissões de gases do efeito estufa. Em Barcelona (último encontro formal antes da cúpula de Copenhague, em dezembro), o debate se concentra nas metas para 2020.
A Europa já falara em reduzir suas emissões em até 30% em relação ao nível de 1990. Os africanos acham pouco e querem 40%. "Pedimos que os países desenvolvidos tenham números que estejam de acordo com a ciência", afirmou o argelino Kamel Djemouai, representante do grupo.
Ao falar em "ciência", ele recorre a estudos que mostram alta probabilidade de que as metas em discussão para Copenhague não seriam suficientes para evitar consequências perigosas da mudança do clima.
"Não se trata de uma questão de viver em uma casa de três andares ou viver numa de um quarto só. Todas as ofertas vendidas à mídia pelos países desenvolvidos são insuficientes. Um acordo fraco iria nos levar à morte", afirmou o sudanês Lumumba Stanislaus Di-Aping, que falou em nome do G77+China (Bloco diplomático de países em desenvolvimento do qual o Brasil faz parte). "Se ficarmos nos 30%, nossas florestas irão quase desaparecer. Pequenos Estados que ficam em ilhas iriam desaparecer."
O Brasil apoiou a posição africana. "Ter os números é importante para a negociação como um todo", disse André Odenbreit, do Itamaraty.
Tampouco os africanos conseguiram arrancar ontem alguma promessa nova dos países desenvolvidos. O acordo para que eles voltassem à mesa passou tomou tempo. Agora, 60% das sessões em Barcelona, até sexta, serão usadas para debater as metas de gases-estufa.
"Os países africanos mostraram que não vão esperar e aceitar um acordo ruim em Copenhague. Os países ricos precisam agora usar bem esse tempo extra",disse Antonio Hill, conselheiro da ONG Oxfam.
Os europeus criticaram ao longo do dia a estratégia africana. "Entendemos a preocupação deles. Mas a maneira que escolheram para limitar a discussão pode não ser muito produtiva", afirmou o sueco Anders Turesson, negociador-chefe da União Europeia.
Quem esteve ausente do centro do conflito ontem foram os EUA, que nem meta oficial colocaram na mesa. "Todos reconhecem que a falta de metas dos EUA é um constrangimento para a negociação", disse Elliot Diringer, do Centro Pew para Pesquisa em Mudança Climática. Ele ponderou que os EUA só devem mostrar algo quando houver acordo doméstico sobre o número e vontade de atingi-lo. "Há risco para o processo político interno se houver a percepção de que o presidente Obama está andando à frente do Congresso."
Fonte: Folha de São Paulo/ ROBERTO DIAS/ de Barcelona
Foto: Reuters