Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos
O Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, coordenado pelo Instituto O Direito por um Planeta Verde tem como meta fomentar o desenvolvimento de instrumentos regulatórios relacionados às mudanças climáticas nos países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, integrantes do Tratado de Cooperação Amazônica. LEIA MAIS
16/03/2010
Críticas ao IPCC podem adiar decisões importantes
A principal consequência dos recentes ataques ao Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) é o enfraquecimento do tema junto à opinião pública. O resultado da desmobilização da população em relação às mudanças climáticas pode ser o adiamento de decisões importantes tanto na área de prevenção e mitigação, quanto na de adaptação aos seus impactos.
Segundo Paulo Moutinho, coordenador do Programa de Mudanças Climáticas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o IPCC trabalha com um conjunto muito grande de informações e, portanto, é esperado que alguns pequenos equívocos acabem passando e sejam retificados nos próximos relatórios. “Isso não quer dizer que todo o trabalho do Painel esteja errado. Há exagero na repercussão dos problemas, o que parece até proposital”, disse.
Um exemplo de equívoco, que não compromete o resultado do relatório, envolve informações do IPAM. O IPCC foi criticado por apresentar, em sua quarta avaliação, informações imprecisas sobre a suscetibilidade das florestas da Bacia Amazônia à redução de chuvas. Segundo o biólogo Daniel Nepstad, pesquisador do Woods Hole Research Center (WHRC) e do IPAM, embora as citações listadas no relatório estejam incompletas, a informação divulgada é correta.
“O relatório que é citado em apoio à declaração do IPCC (Rowell and Moore 2000) incorretamente atribuiu o valor de 40% para o nosso trabalho de 1999. Mas esse valor já havia sido publicado na revista Nature, e Rowell e Moore consultaram pesquisadores do IPAM antes de fechar o relatório”, afirma o pesquisador em artigo no Blog do IPAM.
Para Moutinho, qualquer trabalho pode melhorar ou criticar a compilação do IPCC. “O que não pode é duas ou três citações se contraporem ao trabalho de centenas de cientistas e tentarem desacreditar o IPCC. Nesse sentido, a ideia de se criar um comitê científico independente da ONU é bem vindo. A conclusão certa é que as mudanças climáticas estão em curso e o homem tem uma participação determinante no processo”.
O coordenador do IPAM ressalta, contudo, que é ingênuo achar que não ocorrem erros nas compilações de dados para os relatórios e que, mesmo uma compilação independente dos governos, não estaria isenta de riscos. “Compilar dados é a ação fundamental do IPCC e algo muito difícil de ser feito. É necessário lembrar que o Painel elege vários revisores, os quais são os mesmos que fazem as revisões de artigos em revistas de ponta. Obviamente, há pequenos erros nos textos que são corrigidos de relatório para relatório. Nada que comprometa as conclusões”.
Entenda o caso:
Os críticos do IPCC ganharam espaço na mídia, no final de 2009, quando foram divulgados documentos obtidos por hackers dos arquivos da Unidade de Pesquisa Climática de East Anglia que, supostamente, revelam algumas manipulação de dados para apresentar o aquecimento global como um fenômeno causado pela humanidade. Segundo os pesquisadores envolvidos na controvérsia, seus emails foram alvo de ataque de hackers e tirados de seu contexto.
A essa crise, se seguiu a divulgação de erros no quarto relatório do IPCC, de 2007, sobretudo o que dizia que as geleiras do Himalaia derreteriam até 2035, ou antes. Este dado não estava baseado em evidências e teve início uma busca a erros no informe, que levou ao anúncio da realização de uma avaliação independente do estudo.
O processo de trabalho do IPCC, pouco conhecido inclusive por seus críticos, embora implique em pequenos erros, dificilmente permitiria que seus resultados não apontassem o caminho certo. Criado pela ONU em 1988 especificamente para estudar as mudanças climáticas, o Painel reúne quase 2.000 cientistas do mundo todo com a missão de avaliar as informações científicas, técnicas e socioeconômicas relevantes para o entendimento do risco das mudanças climáticas, seus impactos potenciais e as opções de adaptação e mitigação.
O IPCC não pesquisa nem monitora diretamente dados relativos ao clima, ele baseia suas avaliações na literatura técnico-científica já publicada. Para o quarto relatório, o IPCC avaliou 577 trabalhos científicos descrevendo cerca de 80.000 séries de dados, que mostram modificações significativas em sistemas físicos (como recuo de geleiras, anomalias em rios, lagos e oceanos) e biológicos (como alterações no comportamento de peixes, aves e outras espécies animais e mudança nas regiões de ocorrência e no ciclo anual de espécies vegetais).
A partir desses dados, concluiu o IPCC, em fevereiro de 2007: “O aquecimento do sistema climático é inequívoco, como é agora evidente pelas observações de aumento das temperaturas médias globais do ar e do oceano, de derretimento generalizado de neve e gelo, e de elevação do nível do mar”.
Fonte: IPAM/ Maura Campanili