Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos
O Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, coordenado pelo Instituto O Direito por um Planeta Verde tem como meta fomentar o desenvolvimento de instrumentos regulatórios relacionados às mudanças climáticas nos países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, integrantes do Tratado de Cooperação Amazônica. LEIA MAIS
25/01/2011
Catástrofes climáticas encarecem alimentos
Mau tempo na Europa obriga produtor rural do norte da França a se antecipar à neve para evitar prejuízo maior na produção
As mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global estão fazendo os preços das commodities dispararem. Os alimentos estão cada vez mais caros e escassos diante dos desastres naturais ocorridos nos últimos meses em todo o planeta, que arrasaram inúmeras plantações e pastos, reduzindo a oferta de comida. No Brasil, por exemplo, o preço dos alimentos foi o item que compõe o cálculo da inflação que mais subiu em 2010: cerca 9%, contra a variação geral de 5,91%.
Fortes chuvas no Hemisfério Sul e um inverno rigoroso no Hemisfério Norte são os grandes responsáveis por essa carestia, não só da comida, mas também do petróleo utilizado no aquecimento residencial das residências europeias e norte-americanas. O crescimento na demanda fez com que o barril do combustível voltasse a flertar com a casa dos US$ 100 nas bolsas internacionais.
“Há um aumento da demanda no mercado mundial. O mundo está comendo mais e também diminuindo seus estoques. E não nos referimos somente à China e à Índia. Por isso, todos precisarão de commodities”, avaliou o secretário de Política Agrícola do Ministério da Fazenda, Edilson Guimarães. “O mercado internacional está influenciado pela queda na produção de trigo na Rússia. Esse fato puxou os preços. Agora, a Austrália também está com perdas. O Brasil é exportador de commodities e deverá aumentar suas vendas em valor, porque é um dos poucos países com excedente.”
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, ao divulgar suas prioridades ao G-20 - grupo das economias mais industrializadas do planeta -, defendeu novas regras contra o aumento no preço das commodities, alegando o risco de o mundo entrar em uma recessão diante da queda na oferta de alimentos. O líder francês demonstrou maior preocupação com os preços da comida do que com as metas previamente declaradas do G-20, como a de explorar mudanças no sistema monetário global, revendo o papel do dólar como moeda de reserva. “Como vocês explicam que possamos regulamentar os mercados de moedas e não o de commodities?”, indagou, ontem, em Paris.
Prazo curto
Sarkozy não parou nos questionamentos. Recorreu aos apelos: “Se não fizermos nada, corremos o risco de distúrbios alimentares nos países mais pobres e de um efeito muito desfavorável sobre o crescimento econômico global”. O mandatário destacou ainda que não irá se somar aos Estados Unidos na pressão sobre a China pela valorização do iuan, prejudicando as exportações do resto do mundo.
A produção global de alimentos precisa crescer, no mínimo, 40% nas próximas duas décadas para evitar o aumento da fome global, revelou um estudo divulgado ontem pelo instituto britânico Foresight Report on Food and Farming Futures. A pesquisa alerta que, nos próximos 20 anos, a população mundial será de 8,3 bilhões de pessoas e os governos e os produtores de alimentos deverão prestar contas a respeito de seus progressos na redução da fome, no combate às mudanças climáticas, na degradação ambiental e no aumento da produção alimentícia. “Temos 20 anos para produzir cerca de 40% a mais de comida, 30% a mais de água potável e 50% a mais de energia”, disse John Beddington, um dos cientistas responsáveis pelo estudo.
A oferta de áreas cultiváveis no planeta é limitada, assim como a de água potável, e elas não crescem no mesmo ritmo da população. Para produzir alimentos para esse enorme contingente de pessoas, a irrigação torna-se fundamental e poderá ser uma preocupação no futuro. Apesar de a Terra ter dois terços de água, apenas 3% desse volume vêm dos oceanos e a maior parte (2,5%) ainda está congelada nos pólos. Logo, não é à toa que segurança vem sendo um tema cada vez mais recorrente nos debates internacionais sobre o tema, como no Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês).
Desastres levam US$ 109 bilhões
Os desastres naturais causaram US$ 109 bilhões de prejuízo no ano passado, três vezes mais do que em 2009, com Chile e China sofrendo os maiores danos, informou ontem a Organização das Nações Unidas (ONU). Dados compilados pelo Centro para Pesquisa sobre a Epidemiologia dos Desastres (Cred, na sigla em inglês) mostram que o terremoto de 8,8 graus de magnitude que atingiu o Chile em fevereiro custou US$ 30 bilhões. Deslizamentos de terra e enchentes no último verão na China provocaram US$ 18 bilhões em perdas. Embora o terremoto de 12 de janeiro no Haiti tenha matado um maior número de pessoas em 2010 - 316 mil -, os gastos foram menores, de US$ 8 bilhões. As enchentes de julho e agosto no Paquistão custaram US$ 9,5 bilhões.
De olho no estrangeiro
Com o agricultor se preparando para começar a colheita da próxima safra, o governo brasileiro enfrenta o dilema de garantir o abastecimento interno sem deixar de se beneficiar das receitas de exportação propiciadas pelo campo. Outra preocupação é impedir que os alimentos continuem a comandar a alta da inflação, como vêm fazendo desde meados do ano passado. Estimada em 149,41 milhões de toneladas de grãos, a próxima colheita será ligeiramente menor (0,1%) em volume que os 149,2 milhões de toneladas produzidas em 2009/10, mas deverá render ao país muito mais em divisas, graças à valorização dos preços internacionais das chamadas commodities.
Apesar da inflação dos alimentos na casa dos 9% em 2010 - contra um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,91% no período -, o agronegócio exibe estatísticas favoráveis nos últimos 8 anos. Entre 2003 e 2010, enquanto os preços dos alimentos e bebidas subiram 228,21%, a variação geral medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi maior, atingindo 270,46%. No período, os gastos com produtos alimentícios se elevaram menos que os desembolsos com comunicações (691,52%), habitação (527,1%) e educação (315,05%).
Oportunidade
“Nesta safra, deveremos ter preços mais baixos para o consumidor”, previu o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Edilson Guimarães. A se confirmarem suas projeções, na safra 2010/11, a área de plantio será de 48 milhões de hectares - um acréscimo de 1,3% em relação a 2008/09. As plantações de arroz, feijão, soja e trigo serão maiores, garantindo o abastecimento do mercado interno e aliviando o custo da alimentação na mesa da população brasileira.
Atento ao mercado externo, o Brasil aposta na cana-de-açúcar. Novas usinas entraram em funcionamento em Minas Gerais, São Paulo e Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro. A área de plantio também cresceu, com objetivo de aproveitar a quebra de safra na Índia e o aumento da procura mundial. Caso mantenham o ritmo, as exportações devem alcançar 28 milhões de toneladas, num aumento de 14,6% em relação à safra 2009/10, diz a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
A previsão é de que 46,2% do total da cana esmagada sejam destinadas à fabricação de açúcar, o que deverá gerar 38.675,5 mil toneladas do produto final - resultado 16,93% maior em relação à safra anterior.
Fonte: Correio Braziliense/ Rosana Hessel e Jorge Freitas - Especial para o Correio