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Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos

O Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, coordenado pelo Instituto O Direito por um Planeta Verde tem como meta fomentar o desenvolvimento de instrumentos regulatórios relacionados às mudanças climáticas nos países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, integrantes do Tratado de Cooperação Amazônica. LEIA MAIS

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16/12/2013

“Aqui no Caribe já convivemos com a mudança climática”


Mocho, Jamaica – As montanhas de Mocho, no centro da Jamaica, já estiveram cobertas por exuberantes florestas tropicais, que ajudavam a controlar as chuvas. Agora, boa parte dessa mata e de terras agrícolas está destruída e as pessoas sofrem seu efeito mais devastador: condições climáticas extremas. A área “foi severamente danificada pela extração de bauxita, e se perdeu árvores e também terra arável”, disse à IPS a coordenadora regional da organização Panos Caribbean, Indi McLymont-Lafayette, que cresceu em Mocho.

Por isso, agora a população está muito vulnerável à mudança climática, explicou McLymont-Lafayette. A Panos é uma rede mundial que trabalha para dar voz às comunidades pobres e marginalizadas. As pessoas da área “foram muito prejudicadas pelos furacões Ivã e Dean (em 2004 e 2007, respectivamente). Há secas mais prolongadas, e os agricultores têm problemas de acesso à água, porque a comunidade usa principalmente a da chuva”, explicou.

Mocho, que fica a uma hora e meia de carro da capital, Kingston, foi muito conhecida como o celeiro do departamento central de Clarendon. “Se ocorrem chuvas esporádicas, o que também se prevê no contexto da mudança climática, para os agricultores fica mais difícil planejar sua temporada de semeadura, e isso tem implicações para a segurança alimentar da Jamaica”, acrescentou McLymont-Lafayette.

A coordenadora recorda claramente a primeira vez que viveu na própria carne um desastre natural. “Durante minha adolescência houve só um furacão: Gilbert, em 1988. Na época o vivi como algo emocionante, porque era o primeiro que tínhamos desde 1951. Meus avós haviam me contado sobre ele. Mas, quando chegou o Gilbert, a devastação que deixou fez com que eu não quisesse voltar a ver um furacão nunca mais”, afirmou McLymont-Lafayette.

“Naturalmente, não foi o que aconteceu. E, nos últimos 15 anos, quase a cada ano, sofremos tempestades tropicais ou furacões”, lamentou McLymont-Lafayette. “Se olharmos as estatísticas entre 2002 e 2007, veremos que foram perdidos US$ 70 milhões por causa de eventos meteorológicos extremos, e isso é muito dinheiro para um país em desenvolvimento como a Jamaica. Por isso essa é uma preocupação séria nossa e de muitas ilhas pequenas do Caribe”, ressaltou.

Entre essas ilhas está Santa Lúcia, açoitada por furacões em 2007, 2010 e 2011. Seu ministro de Desenvolvimento Sustentável, James Fletcher, disse à IPS que a mudança climática é uma realidade cotidiana. “Fazemos um enorme esforço para explicar à comunidade internacional que enquanto para alguns países são tema de debate acadêmico ou algum tipo de conceito esotérico, nós, no Caribe, vivemos a mudança climática”, afirmou o ministro.

“Os pescadores veem minguar suas capturas porque os oceanos ficam mais quentes, os arrecifes de coral estão descolorindo e a pesca não é tão produtiva quanto antes. Agora as pessoas veem inundar as faixas costeiras e o mar adentrando mais na terra”, pontuou Fletcher. Santa Lúcia ainda se recupera do furacão Tomás, que em 31 de outubro de 2010 atingiu a ilha e matou 14 pessoas. O governo continua reparando boa parte do dano causado.

Além disso, os principais setores econômicos da maioria dos países caribenhos, como a agricultura e o turismo, já estão comprometidos e estarão ainda mais, lamentou Fletcher. Segundo o ministro, “muito em breve começaremos a ver diferenças na fertilidade de algumas terras agrícolas, porque no Caribe não há nenhum lugar que fique muito longe do mar. A água salgada que começa a invadir a terra logo adultera a fertilidade, por isso estamos experimentando a mudança climática de muitas maneiras”.
McLymont-Lafayette citou a previsão do índice de risco climático 2008 da Germanwatch, segundo o qual a ilha de Barbuda provavelmente desaparecerá sob as águas dentro de 40 anos. “Quando fiquei sabendo, como habitante do Caribe, fiquei arrasada, porque pensava que a mudança climática afetaria principalmente o Pacífico”, afirmou.

Entretanto, os países caribenhos contra-atacam, e reconhecem a importância da adaptação. Na semana passada, a Assembleia Legislativa de Barbados deu luz verde ao governo para utilizar US$ 13,3 milhões do fundo de um projeto para combater a mudança climática e proteger a faixa costeira.

O ministro de Meio Ambiente e Saneamento, Denis Lowe, declarou que Barbados tem que contra-atacar, pois a mudança climática está branqueando e matando os corais. “Há uma correlação direta entre o estado dos corais em toda a ilha e a intensidade dos fenômenos meteorológicos, a elevação do nível do mar e o aumento da temperatura da água”, enfatizou. O ministro explicou que na ilha há 20 arrecifes coralinos que requerem proteção.

McLymont-Lafayette acredita que a Jamaica focou na preparação para os efeitos do aquecimento global. “No mês passado, apresentamos uma política sobre mudança climática no gabinete, e a Jamaica criou um ministério de mudança climática, um dos poucos que há no mundo. Estamos levando isso muito a sério”, assegurou. O Ministério de Água, Terra, Meio Ambiente e Mudança Climática da Jamaica foi criado em janeiro de 2012 para formular e implantar políticas nessas áreas.

De toda infraestrutura jamaicana, 70% está na faixa costeira. “Nossos aeroportos e hotéis estão na costa, e em Negril, onde contamos com 11 quilômetros de belas praias, houve uma erosão significativa, em parte porque subiu o nível do mar, entre outros fatores”, ressaltou McLymont-Lafayette. “Si quisermos que o turismo continue sendo sustentável, temos que restaurar a faixa costeira”, concluiu.

Fonte: Desmond Brown, da IPS / Envolverde /Mercado Ético


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