Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos
O Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, coordenado pelo Instituto O Direito por um Planeta Verde tem como meta fomentar o desenvolvimento de instrumentos regulatórios relacionados às mudanças climáticas nos países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, integrantes do Tratado de Cooperação Amazônica. LEIA MAIS
16/01/2009
Preservação da Amazônia pode evitar eventos climáticos extremos no país, diz pesquisador
A preservação da Amazônia pode evitar eventos climáticos extremos no centro-sul do Brasil, por causa do papel da floresta na manutenção do equilíbrio do clima na América Latina. De acordo com o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Antonio Nobre, a floresta tem papel fundamental no equilíbrio do sistema hidrológico da região.
“No funcionamento do clima na América do Sul, a Amazônia tem um papel muito grande na exportação de umidade, por meio da atmosfera, dos ventos. As nuvens saem da Amazônia para irrigar as regiões no centro-sul da América Latina: Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, norte da Argentina. Toda essa região depende das águas que vêm da Amazônia”, apontou Nobre em entrevista à Rádio Nacional da Amazônia.
De acordo com dados do pesquisador, por dia, a Amazônia chega a jogar na atmosfera 20 bilhões de toneladas de água em forma de vapor.
O bom funcionamento desse sistema de regulação do regime de chuvas depende da manutenção da floresta em pé, sem desmatamentos, segundo Nobre. “O que está em curso hoje ameaça gravemente o funcionamento dessa máquina gigantesca”, avaliou.
O cientista compara o desmate da Amazônia à retirada de partes do fígado de uma pessoa que ingere muito álcool e depende do bom funcionamento do órgão para se recuperar dos excessos. “A floresta amazônica é como um fígado gigantesco, uma bomba, um pulmão. As árvores têm um papel muito importante no funcionamento da atmosfera, do transporte de água, do clima. E o que estamos fazendo é como cortar um pedaço do fígado, que passa a ter muito menos capacidade de lidar com os abusos, que nesse caso são o aquecimento global e todas as agressões que são decorrentes da atividade humana na Terra”, explicou.
Segundo Nobre, apesar de não ser possível traçar precisamente uma relação direta entre o desmatamento da floresta e as recentes chuvas que atingiram Santa Catarina, por exemplo, a ocorrência de eventos climáticos extremos como esse está relacionada a um desequilíbrio ambiental, que pode ser evitado.
“O que a Amazônia provê não são apenas serviços [ambientais] para o cinturão agrícola, para as hidrelétricas, para a atividade industrial; o que a Amazônia provê é um sistema de estabilização climática que consegue manter a região toda em equilíbrio. Não se tem nem excesso de água nem falta. E também impede que ocorram secas prolongadas, que criariam os desertos”, acrescentou.
Nobre defende que, mesmo diante de incertezas científicas, há fatos suficientes para justificar a demanda urgente pela preservação. “O que a ciência já sabe é mais do que suficiente para comprar várias apólices de seguro. E o seguro se chama proteger a floresta. Estamos destruindo o sistema hidrológico e o clima da América do Sul”, alertou.
Fonte: AmbienteJá/Agência Brasil