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Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos

O Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, coordenado pelo Instituto O Direito por um Planeta Verde tem como meta fomentar o desenvolvimento de instrumentos regulatórios relacionados às mudanças climáticas nos países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, integrantes do Tratado de Cooperação Amazônica. LEIA MAIS

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25/01/2009

O legado tóxico do texano


Políticas de George W. Bush incitaram a explosão do uso de carvão na China e tornaram quase impossível agir contra a mudança do clima

Dado o número imenso de candidatos a "pior legado da era Bush", pode parecer uma perversidade eleger as centenas de usinas termelétricas a carvão que foram inauguradas em toda a China durante seu mandato. Mas, devido ao seu efeito cumulativo, eu acho que elas podem ser o que a história acabará reconhecendo. E elas são um emblema do fracasso total de George W. Bush em ajudar o mundo a conter as emissões de carbono no que pode ter sido o último momento possível.
Quando Bush assumiu seu primeiro mandato, a China (e a Índia também) estava bem no começo de seu grande salto energético. A China vinha se tornando paulatinamente mais eficiente ao longo da década anterior, à medida que indústrias estatais absurdas começavam a fechar. Mas ambos os países estavam no rumo da verdadeira explosão de suas economias de exportação e da subsequente migração acelerada de residentes das zonas rurais para a cidade, o maior êxodo da história humana.

O candidato óbvio, fácil e barato a motor dessa explosão sempre foi o carvão mineral: a China tem imensas reservas dele, e o tipo de força de trabalho e de ligações ferroviárias que tornam sua exploração relativamente fácil. Mas, no ano 2000, nós já sabíamos o bastante para concluir o quão perigoso seria se a China mergulhasse de cabeça no carvão. George W., lembre-se, havia prometido durante a campanha de 2000 que baixaria uma "lei dos quatro poluentes" para as termelétricas a carvão dos EUA, forçando-as a começar a reduzir o dióxido de carbono.

Mas Bush abandonou esse plano semanas depois de assumir a Casa Branca, quebrando as pernas de Christine Todd Whitman, sua chefe Agência de Proteção Ambiental, às vésperas de sua primeira viagem ao exterior. Daquele dia em diante, não havia mais nenhuma chance real de que o mundo fosse fazer algum progresso contra o carbono na era Bush.

Desculpa perfeita

A falta de ação dos EUA deu a todas as outras pessoas que não queriam mudar a desculpa perfeita para não fazer nada. Os chineses podiam dizer com justiça que eles certamente não deveriam ter de assumir a liderança -uma vez que eles queimam combustíveis fósseis havia pouco tempo, levará décadas até que eles sejam tão responsáveis pelo aquecimento global quanto os EUA, independentemente de sua população ser muito maior. E foi assim que a China seguiu o caminho mais fácil.

Qualquer pessoa que tenha ido lá recentemente conhece o resultado: cidades sufocadas pela fumaça do carvão, linhas de transmissão serpenteando por cada morro e vale no mesmo sobe-e-desce hipnótico da própria Grande Muralha. E qualquer pessoa que leia as cifras crescentes do carbono medido pelos instrumentos no monte Mauna Loa conhece a consequência maior: o mundo está hoje acima até mesmo das mais sombrias trajetórias de emissões delineadas por especialistas em políticas de clima.

Mas, mesmo para aqueles que queriam fazer algo em relação ao clima -Europa e Japão-, a recusa dos EUA em se engajar nas negociações significava que quase nada poderia acontecer. Sim, o Protocolo de Kyoto foi finalmente ratificado.

Mas, por causa da recalcitrância americana (que remonta à era Clinton), esses países nunca foram fortes o bastante para realizar muita coisa. Os oito anos Bush viraram um interregno na política internacional de clima. As delegações americanas sabotaram reuniões e frearam qualquer proposta de mudança real.

Não está claro se mesmo o presidente mais bem-intencionado poderia ter tirado a China de sua esbórnia carvoeira. Teria sido necessário um misto sagaz de diplomacia, transferência de tecnologia e pressão moral para colocá-los em uma proa diferente. Mas mesmo desvios sutis de rota no começo da década teriam resultado em muito menos dano do que o que vemos hoje. Mas nunca saberemos, porque Bush não tentou.

Como resultado dessa má conduta planejada, Bush deixa Obama na pior posição possível para fazer algo substancial em relação ao carbono. Para começar, os chineses têm agora todas essas termelétricas a carvão, um enorme problema mesmo que queiram fechá-las todas. (E fechá-las é aquilo que deve ser feito; se a Terra não parar de queimar carvão até 2030, a concentração de CO2 em 350 partes por milhão vira carta fora do baralho.)

E, como os chineses estão produzindo agora tanto CO2 quanto nós, nosso lobby do carvão tem um argumento retórico poderoso para usar contra qualquer ação efetiva dentro de casa. Ouve-se isso o tempo todo nos canais de TV estatais -um ou outro republicano de algum Estado carvoeiro anunciar piamente que "não fará bem à América abdicar de suas emissões de carbono até a China fazer o mesmo".

Sentar para negociar com os resultados desses oito anos será a maior tarefa ambiental de Obama. Em dezembro, em Copenhague, americanos e chineses terão de ter recoreografado inteiramente a dança venenosa que têm ensaiado na última década. Se não conseguirem, será nula a possibilidade de um acordo que vire a mesa. q Ah, e como o elemento mais importante dessa virada de mesa será sem dúvida encontrar uma maneira de compensar a China pelo custo de mudar para fontes de combustível mais caras, a recessão em que Bush nos deixa se transforma em mais um obstáculo. Se tivesse planejado avacalhar de propósito as chances de lidar com o aquecimento global, Bush não poderia ter feito um trabalho melhor.

Por: Bill McKibben é pesquisador-residente do Middlebury College, em Vermont (EUA), e fundador da campanha 350.org. Este texto foi originalmente publicado na Grist.org
Fonte: Folha de São Paulo


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