Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos
O Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, coordenado pelo Instituto O Direito por um Planeta Verde tem como meta fomentar o desenvolvimento de instrumentos regulatórios relacionados às mudanças climáticas nos países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, integrantes do Tratado de Cooperação Amazônica. LEIA MAIS
30/01/2009
Devagar com o andor
Mal se passou uma semana da posse majestosa de Barack Obama e o presidente americano segue enchendo os olhos (e ouvidos) de ambientalistas e de analistas do movimento da sustentabilidade mundo afora. Seu discurso de posse foi pontuado por sentenças pró energias renováveis - “Vamos fazer uso do sol, dos ventos e do solo para mover para abastecer nossos carros e mover nossas indústrias”, disse, entre outras referências à crise ambiental.
Além de falar, Obama começou a agir. Nesta segunda-feira, incomodou a indústria automobilística ao pedir à Agência de Proteção Ambiental americana (EPA) que permita que cada um dos estados teça sua própria legislação sobre padrões de eficiência energética dos carros. A idéia é que cada estado crie suas normas e que estas sejam mais rigorosas que as leis federais, como vinha pleiteando a Califórnia, de Schwarzenegger.
Também pediu às montadoras que se dediquem a fazer carros menos beberrões - o uso de gasolina representa quase a metade do consumo diário de petróleo dos EUA. “Vamos assegurar que os carros econômicos do futuro serão produzidos na América”, decretou. A indústria automobilística, que por anos lucrou com os SUVs, chiou, dizendo que os carros econômicos que o presidente pediu são os que menos dão lucro. Os republicanos também não gostaram.
Ponto para Obama. Antes da posse, montou um notável time ‘verde’, com um Nobel à frente da pasta de Energia. Steven Chu se notabilizou por seus estudos envolvendo o etanol a base de celulose, e foi parceiro do nosso José Goldemberg.
Mas é bom manter um certo ceticismo acerca do desempenho de Obama no que tange à sustentabilidade. E por duas razões principais. Primeiro, porque, por mais bem-intencionado que esteja, o presidente americano não governa sozinho. Há o Congresso, a oposição republicana e um sem-número de lobistas de plantão (da indústria do petróleo e automobilística aos montes, inclusive).
Ele não era ‘verde’
Segundo, porque não há garantias de que a ascensão de Obama ao poder fará com que a maior ecomomia do mundo tope assinar o Protocolo de Kyoto, ou o documento que o irá substituir, ao final deste ano. De novo o Congresso americano. E vale lembrar que, enquanto senador, Barack Obama votou contra a ratificação do acordo sobre o clima - não foi George W. Bush que vetou Kyoto, e sim o Senado americano, por 95 votos a 0. A justificativa era que reduzir as emissões de gases de efeito estufa traria um impacto significativo à economia dos EUA.
É possível que Obama tenha realmente se convertido à causa verde - e ele dá mostras de que está sensibilizado para essas questões. Em seu discurso de posse, ponderou que “não podemos consumir os recursos do mundo sem nos preocuparmos com seus efeitos. O mundo mudou, e nós precisamos mudar com ele”. Mas não houve ainda um questionamento firme sobre o quão predatório é o padrão de consumo americano, já que seu plano para levantar a economia dos EUA inclui incentivos para que a população volte a consumir.
Devagar com o andor - o santo Obama é de barro.
Por: Andrea Vialli é jornalista com especialização em sustentabilidade pela Schumacher College, do Reino Unido. Desde 2004 escreve uma coluna voltada para o tema no caderno de Economia&Negócios do Estadão.
Fonte: Envolverde/Mercado ético