Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos
O Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, coordenado pelo Instituto O Direito por um Planeta Verde tem como meta fomentar o desenvolvimento de instrumentos regulatórios relacionados às mudanças climáticas nos países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, integrantes do Tratado de Cooperação Amazônica. LEIA MAIS
06/03/2009
Amazônia seca vira chaminé de carbono
Na forte estiagem de 2005, floresta ficou mais vulnerável a queimadas e parou de frear aquecimento global, diz grupo
Previsão de que o ambiente amazônico ficará seco por mais tempo nas próximas décadas é má notícia para combate ao efeito estufa
A dramática falta d'água no ambiente amazônico em 2005 não afetou apenas a vida dos moradores da região. Com a seca, a floresta, que normalmente absorve carbono, passou a emiti-lo no ambiente. As sequelas deixadas pelo grande estiagem, segundo medições inéditas divulgadas hoje, vão durar por décadas. Com menos água, as árvores morreram mais. Cresceram menos. E a floresta passou a colaborar para a piora do aquecimento global.
"A Amazônia, antes de 2005, absorvia 400 milhões de toneladas de carbono por ano. Durante o fenômeno [seca], não absorveu nada e passou a emitir 900 milhões de tonelada de carbono", diz Luiz Aragão, brasileiro pesquisador da Universidade de Oxford (Inglaterra).
Os 400 milhões de toneladas de carbono que a floresta costuma sequestrar por ano, segundo Aragão, servem para empatar com todo o carbono que é lançado no ar por causa do desmatamento e das queimadas.
O número apresentado pelo pesquisador, um dos 66 dos autores de artigo científico publicado hoje na revista científica "Science", foi o primeiro extraído de dados concretos com medidas sistemáticas em toda a Amazônia.
Estudos anteriores sobre a seca eram estimativas com imagens de satélite.
O grupo de Aragão monitorou árvores em 136 parcelas -áreas de floresta- de 100 m por 100 m, em várias regiões da Amazônia. "Temos estudos, por exemplo, na Bolívia, no Peru, na Guiana e na Colômbia", disse o pesquisador, que trabalha na Floresta Nacional de Caxiuanã, no Pará, onde o Museu Goeldi, de Belém, mantém uma estação de pesquisa.
A contribuição da seca de 2005 na Amazônia para o agravamento do aquecimento global não será imediato, afirma Aragão. O carbono que passou a ser emitido pelo sistema não está ainda todo liberado na atmosfera, explica. Ele continua preso, por exemplo, em folhas ou galhos mortos.
"A seca acabou jogando mais combustível no sistema. A floresta, de uma forma geral, ficou mais vulnerável. Isso amplia o problema das queimadas, um dos fatores que vão contribuir para que o carbono excedente do sistema vá para o ar", afirma o pesquisador brasileiro. "Esse processo dura décadas."
Outro estudo já publicado pelo mesmo grupo, segundo Aragão, havia mostrado que em determinadas regiões da floresta a seca de 2005 aumentou o número de queimadas em 33%.
"Esses resultados podem ser projetados para o futuro", diz o pesquisador. Segundo ele, o círculo vicioso visto para os meses de seca da floresta em 2005 poderá ficar cada vez mais intenso nas próximas décadas. "Os modelos mostram que a floresta vai ficar mais seca em alguns locais. Claro que esse balanço desfavorável de carbono poderá ser mais frequente", disse.
O resultado disso é que enquanto a seca de 2005 é atribuída a um fenômeno natural -anomalias climáticas no Atlântico-, a culpa sobre as estiagens futuras provavelmente vai recair sobre a humanidade.
Por: Eduardo Geraque
Fonte: Folha de S. Paulo