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Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos

O Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, coordenado pelo Instituto O Direito por um Planeta Verde tem como meta fomentar o desenvolvimento de instrumentos regulatórios relacionados às mudanças climáticas nos países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, integrantes do Tratado de Cooperação Amazônica. LEIA MAIS

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16/03/2009

A crise é a hora de taxar o petróleo e salvar o clima


O físico James Hansen ganhou fama mundial após aparecer no documentário "Uma Verdade Inconveniente" como o cientista que alertou o Congresso dos EUA de que o aquecimento global não era ficção.

Seu depoimento de 1988 é considerado um marco que facilitou a criação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas pela ONU naquele ano.
Hoje, Hansen é um dos cientistas que defendem medidas drásticas contra o aquecimento, como altas taxas sobre combustíveis fósseis e o banimento do carvão mineral. Diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais, da Nasa, é responsável por uma revisão anual da temperatura do globo.

Hansen mostrou que 2008 foi um ano particularmente frio, mas que isso não significa que o efeito estufa tenha freado. "Este ano e o próximo provavelmente serão os mais quentes já registrados", diz.

Em entrevista concedida durante sua passagem pelo Congresso Científico Internacional de Mudanças Climáticas, na semana passada, em Copenhague, Hansen criticou a proposta de Barack Obama para o novo acordo climático e explicou por que considera o Protocolo de Kyoto uma falha.


FOLHA - O sr. tem ganho exposição na mídia com frases como "usinas de carvão são fábricas da morte". Isso é uma estratégia deliberada?

JAMES HANSEN - Tento acordar as pessoas. Podemos usar a metáfora do sapo e da água quente: se você aquece água numa panela com um sapo dentro, ele se deixa cozinhar, mas se ele cai direto em água fervente pula fora. A humanidade está permitindo cozinhar a si própria. Ela continua queimando combustíveis fósseis, o que levará a uma situação sem controle para os nossos filhos e para os nossos netos.

Eu tinha parado de falar com a mídia após testemunhar no Congresso em 1988. Situações como aquela nos distanciam da ciência. Não gostei daquilo, não sou uma pessoa que gosta de falar na mídia. Por 15 anos não dei nenhuma entrevista em TV.

Mas em 2004, cheguei a uma conclusão diferente.
Ficou claro que havia uma lacuna entre o que era sabido pela comunidade científica e o que era entendido pelo público e pelas autoridades. Outra coisa que percebi, no contato que tive com a administração Bush -fui convidado duas vezes a conversar com o vice-presidente Dick Cheney- era que as descobertas sobre o clima não estavam tendo efeito na política ambiental. Aí decidi que precisava falar. Não queria que meus netos um dia dissessem: "Meu avó entendeu a gravidade do problema, mas não conseguiu passar a mensagem".

FOLHA - O ano de 2008 foi especialmente frio, e isso fez com que alguns céticos afirmassem que o aquecimento global é uma mentira. Qual o seu palpite para a temperatura destes próximos anos?

HANSEN - Acho que este ano e o próximo serão provavelmente os mais quentes já registrados. Nós estamos entrando em um período de El Niño. Ele será mais ameno que o de 1998, mas agora temos mais carbono na atmosfera, o que é diferente.

FOLHA - Quão otimista o sr. está de que será possível alcançar um novo acordo climático ainda neste ano?

HANSEN - Não estou muito otimista. O que tenho ouvido são propostas de compensação de emissões. Se é isso que será feito, prefiro não ver um acordo. Seria melhor esperar um ano ou dois. Um acordo como esse atrasaria medidas por dez anos.

FOLHA - Qual seria a saída, então? Muitos consideram a próxima reunião de Copenhague, em dezembro, a última chance de salvar o planeta.

HANSEN - É melhor não ter acordo do que ter um acordo ruim. Isso nos levaria de volta à mesa de negociações no ano que vem. Claro que eu gostaria de ver um bom acordo. Mas, a menos que ele ponha um preço no carbono e crie um plano para cessar o uso de carvão, não será suficiente. Espero que o fator principal das negociações seja encontrar um caminho para estabilizar o sistema climático e evitar desastres. Metas de redução de emissões no futuro, sozinhas, não são a melhor maneira de solucionar problema.

FOLHA - O presidente dos EUA, Barack Obama, apresentou uma proposta de reduzir as emissões em 80% até 2050. O que o sr. acha?

HANSEN - Metas de longo prazo são fáceis, porque as autoridades já estarão fora de seus cargos. Não concordo com metas porque isso permite uma "lavagem verde". As pessoas podem fingir que são verdes estabelecendo metas ambiciosas, mesmo quando elas não tomam os passos iniciais para alcançá-las. O que é necessário é colocar preço nas emissões de carbono.

FOLHA - O sr. considera o sistema de créditos de carbono um erro?

HANSEN - Veja o caso do Protocolo de Kyoto. Países que assumiram metas mais difíceis e as cumpriram, como o Japão, aumentaram suas emissões e o consumo de carvão. Como?

Eles compensaram suas emissões investindo na China argumentando que baixariam as emissões lá. Mas as emissões chinesas não caíram. Subiram. Kyoto não é efetivo e levou dez anos para ser negociado. Precisamos de algo mais simples. Se EUA e China concordassem em taxar o carbono, o resto do mundo os seguiria, porque logo os produtos carregariam em seus preços o custo do carbono. A maior razão pela qual continuamos usando combustíveis fósseis é porque são mais baratos que os concorrentes.

FOLHA - O sr. concorda com a visão que está em negociação na ONU de que 2015 deverá ser o momento em que as emissões globais de carbono devem atingir o seu pico?

HANSEN - Prefiro acreditar que o pico das emissões tenha sido 2007 ou 2008, porque agora é provável que as emissões caiam. Deveríamos ver a crise econômica como uma oportunidade de usar a energia de forma mais eficiente e começar a introduzir as energias alternativas. Esse é o momento onde podemos taxar o carbono, porque os combustíveis fósseis estão baratos. Isso é o que precisamos fazer para retornar às concentrações de gases de efeito estufa como as do século 20.

Precisaremos fechar todas as usinas a carvão nos próximos 20 anos. Isso é 80% da solução e fará com que as curvas de emissão caiam muito rápido.

FOLHA - Isso permitiria que a temperatura subisse menos de 2C, como muitos cientistas têm pedido?

HANSEN - Poderíamos ter uma aumento na temperatura global de 1,7C. Mas com isso nós já perderíamos todo o gelo no oceano Ártico. Perderíamos todos os glaciares de montanhas, que fornecem água para milhões de pessoas.

FOLHA - A energia nuclear deve ser parte da solução?

HANSEN - Devemos ter a mente aberta com relação a isso. As prioridades devem ser a eficiência energética e, depois, as energias renováveis. É preciso ainda melhorar as redes de transmissão, para que se possa mover a energia para lugares que não têm como obter as renováveis. Se essas três coisas não forem possíveis, a energia nuclear segura é mais vantajosa. Também devemos pesquisar tecnologia de sequestro de carbono. É difícil, porém, acreditar que o armazenamento de carbono acabaria com todos os problemas do carvão. Deverão existir mais vantagens na quarta geração de usinas nucleares, mas ainda é preciso provar isso.

Por: Gustavo Faleiros, colaboração para a Folha em Copenhague
Fonte: Folha de S. Paulo


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