Realização:

Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos

O Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, coordenado pelo Instituto O Direito por um Planeta Verde tem como meta fomentar o desenvolvimento de instrumentos regulatórios relacionados às mudanças climáticas nos países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, integrantes do Tratado de Cooperação Amazônica. LEIA MAIS

notícias
 IMPRIMIR
 GERAR PDF
 ENVIAR PARA AMIGO
Seu nome:    Seu e-mail:    E-mail do amigo:   

23/03/2009

Emissão elevada de gases-estufa não é culpa de grandes cidades, aponta estudo


As grandes cidades, sempre acusadas de emitir níveis altíssimos de gases de efeito estufa, podem ser mais inocentes do que se imagina. Superpopulação, muitos carros, alta concentração de empresas e toneladas de lixo carimbam as metrópoles como um caldeirão de fontes do aquecimento global. Mas ao contrário do que se pensa, não é ali que está a maior emissão per capita dos países.

Cada nova-iorquino, por exemplo, lança à atmosfera, por ano, 7,1 toneladas de CO2 equivalente (medida-base que converte todos os gases-estufa para o de maior volume, o dióxido de carbono), menos de 1/3 da média nacional dos EUA. Em Tóquio, a emissão per capita não chega à metade da emissão nacional. Paulistas e cariocas não lançam à atmosfera sequer 1/3 do valor que corresponde à emissão per capita dos brasileiros. Nesse caso, é até fácil de entender, já que perto de 70% ou 75% do total de emissões do Brasil tem a ver com desmatamento e queimadas, porcentual ainda maior se somadas as da agricultura e pecuária.

"Mas é provável que a emissão de um paulista ou carioca de alto padrão de consumo seja equivalente ao de um nova-iorquino ou londrino", pondera o geógrafo britânico David Dodman. Ele colocou uma lupa nas emissões de 12 grandes centros urbanos da Europa, Ásia e Américas e viu que o senso-comum está equivocado. "Culpar as cidades pelas maiores emissões de gases-estufa é um engano. A culpa é do alto padrão insustentável das pessoas que estão por ali".

Quem vive em Barcelona, segunda maior cidade da Espanha, emite menos que a metade da média espanhola. A explicação para essa relativamente baixa emissão tem a ver com o perfil de Barcelona: cidade de serviços e não de manufatura, com 90% da eletricidade de fonte nuclear ou hídrica, clima ameno que não exige uso de ar-condicionado e estrutura urbana compacta.

Londres, com mais de 7 milhões de habitantes, respondia em 2006 por 8% das emissões totais do Reino Unido. A tendência da metrópole é seguir um caminho ambientalmente mais limpo - as emissões caíram um pouco de 1990 a 2006, mesmo com aumento de 700 mil moradores no período. Muitas indústrias fecharam ou se mudaram para outros lugares, dentro e fora do país. A emissão dos londrinos é a mais baixa de qualquer região do Reino Unido e chega à metade do correspondente nacional. A de Glasgow é maior e isso se explicaria pela atividade agrícola da redondeza, com emissão de metano e outros gases-estufa ainda mais nocivos que o CO2.

Dodman teve dificuldade em fazer a análise urbana, porque os inventários nacionais de emissões - as nações ricas têm que publicar todos os anos, as outras esporadicamente - possuem datas diferentes e metodologias também díspares. Mas ficou evidente que a emissão per capita dos moradores de metrópoles são bem menores que as per capita nacionais.

Segundo o pesquisador de assentamentos humanos e mudança climática do International Institute for Environment and Development (IIED), esse erro disfarça uma grande distorção na análise do problema. "Culpar as cidades tira o foco dos maiores vetores da emissão de gases-estufa, principalmente do consumo insustentável nos países mais ricos."

O raciocínio parece contraditório, o especialista explica por que não é. "O problema está nos padrões de consumo individuais e nos produtos que vão de lá para cá". Há duas exceções notáveis, Pequim e Xangai, onde a emissão per capita é maior que a nacional. Dodman levanta o debate da mudança do perfil da industrialização, em parte também porque as transnacionais se deslocaram rumo aos emergentes em busca de salários mais baixos e lucros mais altos, escreve no recém-publicado "Blaming Cities for Climate Change? An Analysis of Urban Greenhouse Gas Emissions Inventories" ("Acusando Cidades Pela Mudança do Clima? Uma Análise dos Inventários de Emissões de Gases-estufa Urbanos").

Os inventários dos países alocam as emissões de onde os produtos são feitos, mas não se registra o carbono onde são consumidos. "Meus sapatos foram feitos na China. As emissões estão computadas lá, não aqui", diz.

Outra conclusão do trabalho é que relacionar bem-estar com emissões não é um elo inevitável. Tóquio tem emissões bem mais baixas do que Xangai e Pequim. "Isso indica que não há relação imprescindível entre prosperidade crescente e emissões aumentando", afirma. O estudo traz outra sugestão surpreendente - as cidades têm potencial para ser solução do problema climático. A alta densidade populacional permite soluções em escala para transporte, energia e aquecimento.

Cidade do Cabo e Durban, na África do Sul, vêm desenvolvendo planos integrados de transporte e transformando casas de baixa renda em lares de pouca emissão de carbono. "A vantagem, nas cidades, é que as novas ideias se espalham rápido", pontua o geógrafo. "O desafio das metrópoles nos países em desenvolvimento é de separar o crescimento da emissão de gases-estufa. De percorrer um novo caminho."

Por: Daniela Chiaretti
Fonte: AmbienteJá/Valor Econômico


copyright@2008 - Planeta Verde
Este site tem a finalidade de difundir informações sobre direito e mudanças climáticas. Nesse sentido, as opiniões manifestadas não necessariamente refletem a posição do Instituto O Direito por Um Planeta Verde.