Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos
O Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, coordenado pelo Instituto O Direito por um Planeta Verde tem como meta fomentar o desenvolvimento de instrumentos regulatórios relacionados às mudanças climáticas nos países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, integrantes do Tratado de Cooperação Amazônica. LEIA MAIS
05/04/2009
Desafios climáticos
Serão necessárias ideias e tecnologias completamente novas
Na semana passada, li uma reportagem da jornalista Sharon Begley na revista americana "Newsweek" que me deixou preocupado. Eu já sabia do enorme desafio que será conseguirmos desenvolver tecnologias de geração de energia limpa de modo a diminuirmos a concentração de dióxido de carbono (CO2) e outros gases causadores do efeito estufa em tempo útil. Mas os números são desanimadores. E desafiadores.
Começando do começo, é inútil continuarmos a discutir se o aumento da temperatura global está ou não sendo causado pela poluição industrial. Segundo a maioria esmagadora dos cientistas, especialmente aqueles que se ocupam justamente das pesquisas nesta área, o aumento da temperatura global desde o inicio da era industrial não é uma coincidência.
Mesmo considerando possíveis efeitos naturais -emissões de gases subterrâneos, erupções vulcânicas, flutuações na luminosidade solar- não há dúvida de que a correlação existe: o aumento da temperatura global é, em grande parte, causado pela nossa dependência de combustíveis fósseis. Dado isso, precisamos agir o quanto antes para diminuí-la.
A questão principal no debate sobre como enfrentar os desafios da mudança climática é se devemos focar nossos esforços no desenvolvimento de tecnologias que já existem ou se devemos investir em pesquisas capazes de inovações inesperadas na área.
Em princípio, a resposta é óbvia: devemos fazer os dois. Aprimorar tecnologias de exploração de energia solar, dos ventos, de biomassa e nuclear para que se tornem mais eficientes é fundamental. Muitos dizem que isso será suficiente, que basta melhorarmos o que já temos. Do lado oposto, o diretor do Departamento de Energia americano, o Prêmio Nobel de Física Steven Chu, afirma que precisaremos de invenções revolucionárias, do calibre mesmo de um Prêmio Nobel. O químico Nate Lewis, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, que tenta criar materiais capazes de realizar uma espécie alternativa de fotossíntese, produzindo hidrogênio a partir de água e luz solar, concorda.
O objetivo aqui nos EUA é cortar as emissões em 20% até 2020. O problema é que isso não é suficiente: apenas traria as emissões americanas de volta aos níveis de 1990, que é menos do que o Protocolo de Kyoto (que os EUA rejeitaram) exigia. A meta de longo prazo sugerida é cortar em 80% até 2050. Em 2006, o consumo energético do planeta foi de 14 trilhões de watts. Supondo que a população cresça minimamente (saindo dos 6,7 bilhões atuais e chegando a 9 bilhões em 2050), que o crescimento econômico global seja baixo (1,6% ao ano) e que haverá um aumento na eficiência do uso de energia de 500% (!), o mundo usará 28 trilhões de watts em 2050, o dobro de 2006. Como atingir isso com as energias alternativas?
Para usinas nucleares produzirem 10 trilhões de watts em 2050, são necessários 10 mil reatores novos, ou seja, um reator construído dia sim, dia não a partir de agora. Usando todos os ventos disponíveis no planeta, produziríamos 10 trilhões ou 15 trilhões de watts. Um número mais realista seria em torno de 3 trilhões de watts, com 1 milhão de turbinas eólicas. Já com a energia solar, a mais ineficiente no momento, para atingirmos 10 trilhões de watts em 2050, precisaríamos cobrir 1 milhão de telhados por dia até lá! Impossível.
A solução é investir pesado na pesquisa básica, especialmente naquela voltada para a geração de energia. Serão necessárias ideias completamente novas, combinando engenharia, física, química e biologia. Um passo ainda mais fundamental, que o Brasil e todos os outros países do mundo deveriam estar tomando agora, é ampliar substancialmente o ensino de ciência nas escolas. Só assim a nova geração terá a chance de transformar o seu próprio futuro.
Por: Marcelo Gleiser, professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do Mundo"
Fonte: Folha de S. Paulo