Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos
O Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, coordenado pelo Instituto O Direito por um Planeta Verde tem como meta fomentar o desenvolvimento de instrumentos regulatórios relacionados às mudanças climáticas nos países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, integrantes do Tratado de Cooperação Amazônica. LEIA MAIS
16/04/2009
Meta contra aquecimento não será atingida
Especialistas apontam que é mais provável que a temperatura da Terra se eleve em até 4°C a 5°C
LONDRES - Quase 9 em cada 10 cientistas não acreditam que os esforços políticos para limitar o aquecimento global a 2°C vão funcionar, segundo uma sondagem divulgada esta semana. Um aumento médio de 4°C a 5°C até o fim do século é mais provável, dizem eles.
Uma mudança dessa magnitude poderia desestruturar os suprimentos de água e alimentos, exterminar milhares de espécies de plantas e animais e desencadear elevações maciças do nível dos mares, provocando a inundação das casas de centenas de milhões de pessoas.
A pesquisa com pessoas que acompanham o aquecimento global mais de perto expõe um abismo crescente entre a retórica política e as opiniões científicas sobre as mudanças climáticas. Enquanto formuladores de políticas e militantes se concentram numa meta de 2°C, 86% dos especialistas consideraram essa meta inatingível. Eles advertiram que um foco contínuo na meta irrealista de 2°C, que a União Europeia define como perigosa, poderia até solapar esforços fundamentais de adaptação a aumentos maiores de temperatura nas próximas décadas.
A pesquisa foi feita após uma conferência científica realizada no mês passado em Copenhague, na Dinamarca, onde diversos estudos foram apresentados sugerindo que o aquecimento global poderia ser mais forte e mais rápido que o percebido.
Todas as 1.756 pessoas inscritas para a conferência foram contatadas e perguntadas sobre o curso provável do aquecimento global. Dos 261 especialistas que responderam, 200 eram pesquisadores em ciências climáticas e campos afins. Os demais provinham da indústria ou trabalhavam em áreas como economia e ciências políticas e sociais.
Os 261 especialistas representavam 26 países e incluíam dezenas de figuras de destaque, incluindo diretores de laboratórios, chefes de departamentos universitários e autores do relatório de 2007 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
A sondagem perguntou aos especialistas se a meta de 2°C poderia ser alcançada, e se eles achavam que ela seria atingida: 60% dos que responderam argumentaram que, em teoria, ainda era tecnicamente e economicamente possível atingir a meta, que representa um aquecimento global médio de 2°C desde a Revolução Industrial. O mundo já se aqueceu cerca de 0,8°C desde então, e outro 0,5°C aproximadamente é inevitável nas próximas décadas em razão das emissões de gases causadores do efeito estufa. Mas 39% disseram que a meta de 2°C era impossível.
A pesquisa surge no momento em que se aceleram as negociações na Organização das Nações Unidas para costurar um novo acordo global para regular as emissões de carbono nos meses que antecedem uma reunião decisiva em Copenhague, em dezembro. As autoridades tentarão tecer um acordo que suceda ao Protocolo de Kyoto, cuja primeira fase expira em 2012.
É improvável que a meta de 2°C figure em um novo tratado, mas a maioria das reduções de carbono propostas por países ricos se baseia nela. Bob Watson, principal cientista do Departamento para Meio Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais da Grã-Bretanha (Defra), disse no ano passado que o mundo precisava se concentrar na meta de 2°C, mas também devia se preparar para um possível aumento de 4°C.
Perguntados que aumento de temperatura era mais provável, 84 dos 182 especialistas (46%) que responderam à pergunta disseram que ela provavelmente atingiria 3°C a 4°C, enquanto um punhado disse 6°C ou mais. Enquanto 24 especialistas previram um aumento catastrófico de 4°C a 5°C, apenas 18 acharam que ela permaneceria em 2°C ou menos.
Alguns pesquisados que consideraram que a meta de 2°C seria alcançada confessaram que o fizeram mais por esperança que por crença. “Como mãe de filhos pequenos, optei por acreditar nisso e trabalhar duro para isso”, disse uma cientista.
“Esse otimismo não se deve principalmente a fatos científicos, mas a esperança”, disse outro cientista. Alguns consideraram que medidas de geoengenharia, como semear o oceano com ferro para estimular o crescimento de plânctons, ajudariam a atingir a meta.
Muitos especialistas ressaltaram que a impossibilidade de atingir a meta de 2°C não significa que os esforços para lidar com o aquecimento global devem ser abandonados, mas que a ênfase agora é a limitação dos danos.
Por:David Adam, The Guardian
Fonte: Manchetes Socioambientais/Estadao.com.br