Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos
O Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, coordenado pelo Instituto O Direito por um Planeta Verde tem como meta fomentar o desenvolvimento de instrumentos regulatórios relacionados às mudanças climáticas nos países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, integrantes do Tratado de Cooperação Amazônica. LEIA MAIS
04/05/2009
Mudança climática: Dois graus podem ser fatais
Anchorage, Estados Unidos, 04/05/2009 – A humanidade lança tanto dióxido de carbono na atmosfera que os especialistas em clima pede uma gradual eliminação dos combustíveis fósseis. Se a temperatura média aumentar em apenas dois graus, alertam, o globo climático explodirá. Esse globo tem capacidade máxima inferior a 1.400 gigatoneladas de emissões totais de dióxido de carbono entre 2000 e 2050, informaram na semana passada Malte Meinshausen e seus colegas em um estudo publicado pela revista científica Nature. A União Européia, entre outros, também considera que um aumento mundial superior a dois graus é potencialmente catastrófico.
A temperatura média já é 0,8 grau maior do que a do período pré-industrial. Nos últimos sete anos as emissões mundiais de gases causadores do efeito estufa chegaram a quase 250 gigatoneladas, o que significa que o globo explodirá em 20 anos, ou menos, se continuarmos queimando combustível no ritmo atual. Mesmo se as emissões se mantiverem em um máximo de 1.400 gigatoneladas nos próximos 40 anos, ainda haveria 50% de chances de exceder os dois graus, disse Meinshausen, autor principal do estudo e pesquisador do Instituto Potsdam para a Pesquisa do Impacto Climático, da Alemanha.
Líderes nativos de todo o mundo também exigiram a progressiva eliminação dos combustíveis fosseis no encerramento da Cúpula Mundial dos Povos Indígenas sobre a Mudança Climática, realizada entre 20 e 24 de abril em Anchorage, no Alasca. “Esse pedido está bem apoiado pela evidência neste estudo”, disse Meinshausen à IPS. Quando se inclui outros gases estufa, como o metano, o aquecimento pode ser de 10% a 40% maior até 2100, acrescentou. E certas reações climáticas – mudanças que amplificarão ou acelerarão o aquecimento – estão ausentes dos modelos informatizados. “Nossos modelos não podem dar conta das emissões de metano a partir do derretimento do permafrost”, afirmou o especialista.
Permafrost é a camada sempre congelada do solo, que contém enorme quantidade de carbono orgânico, talvez suficiente para triplicar a quantidade que há atualmente na atmosfera. “Apenas um rápido afastamento dos combustíveis fosseis nos dará uma oportunidade razoável de evitar um aquecimento considerável. Não deveríamos esquecer que um aumento mundial de dois graus significa que o aquecimento nos levará para além das variações naturais da temperatura que a vida sobre a Terra experimentou desde que existem os seres humanos”, disse Meinshausen. Isto seria um sério desafio, porque no solo há muito carbono, afirmou.
As reservas provadas de petróleo, gás e carvão contêm quatro vezes a quantidade de carbono que fará o globo climático explodir de dois graus. Queimar apenas um quarto do que resta no solo levará a humanidade ao ponto de inflexão que derivará em uma perigosa mudança climática. Demorar não é uma opção se o desejo é eliminar os combustíveis fosseis, disseram os cientistas. “Emitir dióxido de carbono mais lentamente faz ganhar tempo, talvez um tempo vital, mas não conseguiremos nosso objetivo último no contexto de uma estratégia para eliminar, todas juntas, as emissões de dióxido de carbono”, concluíram Meinshausen, Myles Allen, da Universidade de Oxford, e outros especialistas, em uma análise incluída nos Informes da Nature sobre a Mudança Climática. “A política climática precisa de uma estratégia de saída: além de reduzir as emissões de carbono, necessitamos de um plano para eliminar as emissões completamente”, disse Allen em um comunicado.
As partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática se reunirão em dezembro em Copenhague em busca de um acordo para substituir o Protocolo de Kyoto, assinado em 1997 e em vigor desde 2005. Nesse contexto, se os negociadores derem atenção às evidências científicas, então um novo objetivo será reduzir em 50% as emissões mundiais em comparação com as de 1990, com o ano de 2050 como meta. Par isto, o atual crescimento anual de 3% nas emissões de carbono deveria acabar até 2015 e começar a redução de 3% ao ano, escreveu Martin Parry, do Instituto Grantham para a Mudança Climática e do Centro para as Políticas Ambientais do Imperial College de Londres, em outro estudo publicado pela Nature.
Se os esforços de mitigação não forem suficientemente substanciais e as emissões não chegarem a um teto em 2025, então é provável que as temperaturas aumentem três graus. O dano gerado por este grau de aquecimento pode ser importante, situando milhares de milhões a mais de pessoas à beira da escassez hídrica e milhões mais em risco de inundação costeira. Evitar esses danos exige enormes investimentos em matéria de adaptação, por exemplo para melhorar o fornecimento e armazenamento de água, bem como proteger os assentamentos das elevação do nível do mar.
“A verdadeira sensibilidade do sistema da Terra pode ser mais alta, o que implica que qualquer objetivo baseado na temperatura se tornará cada vez mais dificil de manter na medida em que ocorram reações mais lentas”, escrevem Gavin Schmidt, do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa, e David Archer, da Universidade de Chicago, em um artigo publicado na semana passada pela Nature. “O balanço final? Uma mudança perigosa, embora não definida em termos gerais, será difícil de evitar”, disseram. Como ocorre quando há vazamento de petróleo, é muito melhor e mais barato evitar isso, em primeiro lugar. IPS/Envolverde
Por: Stephen Leahy, da IPS
Fonte: Envolverde/IPS