Amigo e companheiro de trabalho de Chico Mendes, o pesquisador e professor do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Acre (UFAC), Helder Andrade de Paula, avalia hoje, 25 anos depois do assassinato, que a projeção internacional do líder seringueiro foi crucial para a ocorrência do crime.
Ele analisa que os interessados na morte do líder seringueiro não calcularam que o crime colocaria os problemas da Amazônia no centro do debate mundial sobre o meio ambiente.
“Pessoalmente, achava que os fazendeiros e aquela gente ligada ao poder, a quem interessava eliminá-lo, não seriam tão ousados para fazer aquilo justamente naquele ano. Errei feio”, admitiu Helder à Agência Brasil. Chico Mendes foi assassinado em 22 de dezembro de 1988 com um tiro de espingarda no peito, na cozinha de casa, em Xapuri.
Ainda pouco conhecido no Brasil, em 1987 Chico tornara-se internacionalmente um símbolo da luta pela preservação da Floresta Amazônica e pelos direitos dos trabalhadores extrativistas. Naquele ano, sem falar inglês, denunciou a devastação da floresta e a expulsão de seringueiros ao Senado dos Estados Unidos. Também conseguiu convencer diretores do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) a suspender o financiamento de projetos que impactavam a floresta.
Por esse trabalho, ele recebeu, em Nova York, a Medalha da Sociedade para um Mundo Melhor, e foi o primeiro brasileiro homenageado com o Prêmio Global 500, das Nações Unidas (ONU). Para Helder Andrade de Paula, isso foi crucial para a morte dele.
“Ao contrário do que pensava em 1988, quando conversei com o Chico, aquele prêmio acelerou a motivação do assassinato. Ele tenderia a se tornar um obstáculo cada vez maior. Não só local, mas conhecido internacionalmente. E o latifúndio nunca se intimidou diante de ninguém. Mata padre, freira, imagina se não mataria um seringueiro no Acre. Além do mais, eles não tinham ideia que a repercussão do crime poderia atingir os níveis que atingiu”, avaliou.
Com a morte de Chico Mendes, veículos de imprensa do Brasil e do mundo foram para Xapuri e Rio Branco acompanhar as investigações do crime. Helder ressalta que, com isso, de líder seringueiro e sindicalista, ele se tornou símbolo das causas ambientalistas. “Depois do seu assassinato ele se projetaria como ícone da luta pela terra, da luta pelos povos que vivem nas florestas deste país. Chico Mendes virou um nome mundial, símbolo dessa luta de resistência”, disse Helder de Paula.