Lançada esta semana pela Aliança para a Conservação Marinha, a campanha “Adote Abrolhos – É do Brasil. É do mundo. É nosso”, quer chamar a atenção da sociedade para a importância de se proteger a região do Banco dos Abrolhos, que se estende por 95 quilômetros quadrados desde o sul da Bahia ao norte do Espírito Santo. A entidade promotora é uma parceria entre as organizações não governamentais (ONGs) Conservação Internacional e Fundação SOS Mata Atlântica.
A bióloga Leandra Gonçalves, consultora da SOS Mata Atlântica, esclareceu no dia 23, em entrevista à Agência Brasil, que o objetivo é “exigir do governo brasileiro e dos governos estaduais ações imediatas para garantir a proteção desse ecossistema”.
Como a campanha é voltada para a mobilização online, acaba atingindo, de modo especial, o público jovem, que tem facilidade no uso dessas ferramentas, mas Leandra ressaltou que a iniciativa se destina a toda a população e aos visitantes estrangeiros interessados em ecossistemas marinhos. “É para o público que já visitou Abrolhos e para quem tem interesse em visitar e proteger a região”. Atrizes como Camila Pitanga e Maitê Proença, e atletas como o velejador Lars Grael, apoiam a campanha.
Embora seja uma região importante para o turismo e o meio ambiente no Brasil, as ONG acreditam que Abrolhos necessita de uma maior divulgação. “A sensação que dá é que muitas pessoas que têm ligação com a questão marinha, entre os quais surfistas, mergulhadores, velejadores e as próprias comunidades tradicionais e artesanais conhecem Abrolhos e reconhecem sua importância. Mas a população em geral ainda não reconhece essa importância”.
Leandra salientou que Abrolhos não tem importância apenas para os estados da Bahia ou do Espírito Santo. “É uma região importante para o equilíbrio de todo o planeta”, argumentou.
Além de ser o mais importante berçário das baleias jubarte do Atlântico Sul, Abrolhos tem as principais formações de corais da área. O ecossistema é completado pelo sistema de manguezais da costa local, que “são berçários da vida marinha”, destacou a consultora. Leandra lembrou que Abrolhos é importante também em termos de serviços ambientais. “Ela contribui com absorção de gás carbônico, com o equilíbrio do planeta. É realmente uma região fundamental”.
Na próxima semana, será lançado, dentro da campanha, um álbum de figurinhas virtual. A ideia é que as pessoas que já visitaram Abrolhos contribuam com fotos que tiraram da região. Haverá ainda um concurso cultural, cujas normas serão divulgadas posteriormente pela Aliança para a Conservação Marinha, que premiará quatro pessoas com viagens para conhecer Abrolhos. O objetivo é que os ganhadores funcionem “como mobilizadores para atrair mais pessoas para se juntarem à campanha”. Maiores informações podem ser obtidas no endereço www.adoteabrolhos.org.br.
Outras ONG brasileiras e internacionais participam da iniciativa, que também pretende apoiar a criação de novas áreas marinhas protegidas, ao mesmo tempo em que combate a pesca predatória. Leandra Gonçalves destacou que as duas coisas são interdependentes. A região tem uma unidade de proteção e conservação integral, que é o próprio Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, mas as ONG consideram que ele é insuficiente para garantir a proteção necessária para a área. “Então, a gente está pedindo a ampliação da unidade de conservação existente e criação de novas”.
Leandra observou que a campanha não quer demonizar a atividade pesqueira, porque a pesca é permitida em algumas localidades da região. Cerca de 20 mil famílias de pescadores garantem o seu sustento com a pesca feita ali. Assegurou que a pesca pode ser feita em Abrolhos, desde que seja sustentável e voltada às comunidades tradicionais, em pequena escala e regulamentada. O problema detectado hoje em Abrolhos é que há uma grande quantidade de pesca irregular dentro das unidades de conservação integral, denunciou. “Isso não pode ocorrer”.
As ações de proteção exigidas dos governos federal e estaduais poderão contribuir ainda para incrementar o turismo. Atualmente, Abrolhos recebe menos de 4 mil visitantes por ano. “É pouco para uma região que tem atributos naturais tão interessantes para a indústria do turismo”. O difícil acesso de barco, que demora entre três e quatro horas de viagem até o local, e a falta de linhas aéreas com Caravelas, município baiano mais próximo do arquipélago e localizado a cerca de 950 quilômetros de Salvador, são entraves que precisam ser solucionados, indicou Leandra. Reforçou ainda que é preciso criar um sistema de subsídios para atividades não extrativas na região.