Em maior contato com a poluição do que os cidadãos comuns, trabalhadores do tráfego (como motoristas e cobradores de ônibus, além de taxistas) têm alterações em sua frequência cardíaca durante o repouso, como resposta a pequenas variações das concentrações de poluentes no ar. Em pessoas menos expostas, os efeitos da poluição são sentidos apenas durante o exercício físico. É o que aponta pesquisa desenvolvida no Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
A pesquisa recolheu dados de 75 pessoas, das quais 57 pertenciam ao grupo de trabalhadores do tráfego e as outras 18 eram funcionários do Horto Florestal de São Paulo, localizado a mais de 12 quilômetros (km) do centro da cidade. Os participantes foram submetidos a quatro avaliações consecutivas no período de um mês, sendo uma por semana, em diferentes dias da semana.
A pesquisa transcorreu do seguinte modo: para aferir a poluição a que esses trabalhadores eram expostos “da forma mais próxima do real”, no dia anterior à avaliação, os profissionais buscavam, no HC, um medidor de poluição que ficava junto a eles por 24 horas. No dia seguinte, o aparelho era devolvido para análise, e os trabalhadores passavam por uma avaliação da sua frequência cardíaca. A avaliação ocorria em duas fases: repouso e exercício, pois esses momentos são controlados de maneiras diferentes por uma parte do sistema nervoso denominada Sistema Nervoso Autônomo (SNA), responsável por regular as funções involuntárias do organismo, entre elas os batimentos cardíacos.
Resultados
Foi possível constatar, por meio da pesquisa, que os trabalhadores do tráfego tiveram uma redução da atividade do sistema parassimpático (responsável por estimular ações que permitem ao organismo responder a situações de calma, provocando, por exemplo, a desaceleração do coração e da respiração, a diminuição da pressão arterial, adrenalina e açúcar no sangue) durante o repouso, enquanto o esperado era que houvesse um aumento do funcionamento do sistema simpático (estimula repostas do corpo a situações de estresse, como a aceleração da respiração e dos batimentos cardíacos).
Os funcionários do Horto Florestal, por sua vez, expostos a menos da metade da poluição a que o outro grupo é submetido diariamente, apresentou redução parassimpática apenas durante o exercício, quando submetidos a um estresse cardiovascular, mas também apresentaram prevalência das atividades do SNS durante o repouso. A prevalência do SNS mesmo no grupo dos trabalhadores florestais ocorre, segundo o pesquisador Daniel Antunes Alveno, pois apesar de os trabalhadores do Horto Florestal estarem expostos a uma quantidade menor de poluentes que os trabalhadores do tráfego, ainda assim estão sujeitos a quantidades significativas de poluição acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para baixo risco de doenças cardiovasculares (10 microgramas por metro cúbico de ar).
A pesquisa também mostra que pessoas com problemas como hipertensão, diabetes e obesidade tendem a responderem de modo ainda mais intenso ao aumento de poluentes no ar. Porém, Alveno ressalta que “não se sabe se a poluição é agente causador ou agravador dessas doenças, mas quem é muito exposto à poluição pode ter maior tendência ao aumento e agravamento dessas enfermidades”.
Alternativas
Diversas pesquisas vêm sendo produzidas acerca do impacto da poluição atmosférica na saúde das pessoas (confira aqui, aqui, aqui, aqui e aqui), o que torna cada vez mais difícil negar a relação entre saúde e qualidade do ar. Para reverter a influência negativa que esta última vem causando na qualidade de vida das pessoas, a única saída, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é apostar em energias renováveis.
Cientes disso - e também pressionados pela sociedade-, governos e empresas estão cada vez mais investindo em pesquisas e projetos que envolvam fontes de energia sustentável e renovável na infraestrutura das cidades e na melhoria dos transportes públicos. Mas nós também podemos contribuir para melhorar o ar que respiramos: prefira o transporte coletivo ao individual, dê carona, prefira carro movido a álcool, e deixe a manutenção do seu carro em dia. Assim, você contribui para a melhora da qualidade do ar e ameniza o aquecimento global.