A pegada hídrica é um indicador que pode ajudar a população a entender como os hábitos de consumo são corresponsáveis pela crise hídrica no mundo e que a preservação da água pode ir muito além de apenas fechar a torneira em casa. O conceito é explicado pelo coordenador do Programa Água para a Vida da organização não governamental (ONG) WWF-Brasil, Glauco Kimura de Freitas.
Segundo Kimura, dados da Agência Nacional de Água (ANA) e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) mostram que, via de regra, a agricultura é a maior usuária de água do mundo, seguida pela indústria. Depois é que vem o uso doméstico.
“O consumo tem tudo a ver com a água. A pessoa não associa que a água é usada na produção do alimento que ela ingere, da roupa que ela veste ou da caneta que ela compra. Neste sentido, a pegada hídrica é um conceito muito pedagógico”, explica Kimura.
O conceito de pegada hídrica surgiu na Holanda, no final dos anos 2000, e é um indicador do uso da água, que define o volume total de água doce que é usado para produzir os bens e serviços consumidos pelo indivíduo, comunidade ou empresas.
“Muitas pessoas se assustam quando descobrem que para aquele quilo de carne vermelha que comprou no mercado, em países da Europa, gastam-se até 15 mil litros na produção, ou 130 litros para uma xícara de café. Muitos números que estão embutidos na cadeia de produção foram colocados nessa pegada”, destaca Kimura.
Segundo o especialista, o conceito tem um caráter mais educativo para o cidadão, mas, para o setor empresarial, é uma questão de regulação e incentivo. “Se você compra aquela camisa de algodão que foi feita no Paquistão, aquela água deixou de abastecer comunidades carentes na região. A questão é a ética do consumo, saber onde foi produzido, quais os recursos utilizados e tentar avaliar o uso da água nesse caso. Quanto mais você consome bens materiais, mais está colaborando com o uso da água no mundo.”
Kimura explica que algumas indústrias já estão começando a ficar conscientes dos riscos para a água e estão quantificando sua pegada hídrica, buscando saber onde estão os gargalos na cadeia produtiva. No 29 deste mês, o WWF promove a Hora do Planeta, que é aquela hora em as pessoas apagam as luzes, desligam seus aparelhos e fazem uma reflexão sobre o meio ambiente e o planeta. "Queria sugerir, este ano, que as pessoas reflitam sobre o uso da água, sobre o que você, cidadão, está fazendo para contribuir com a preservação da água, seja se informando ou economizando.”