As erosões que por anos escavaram pastagens nas barrancas do Rio São Francisco, despejando terra, raízes, galhos e árvores inteiras no leito, formaram um dique nos pilares da ponte que corta Iguatama, a primeira cidade por onde passa o curso d’água, no Centro-Oeste de Minas. Por causa da seca, pescadores viram quando essa represa se formou sobre os bancos de areia e reduziu o Velho Chico, de uma c alha de 40 metros de largura e quatro metros de profundidade, a um estreito corredor de 17 metros, tão raso que mal chega a 40 centímetros nas canelas de quem passa por ele. Mas a estiagem não é a única vilã desta que é considerada a pior situação do manancial em todos os tempos.
Desde 2011, a região deixou de receber investimentos para ações de preservação, como a conservação de margens, cercamento de nascentes e recomposição de matas ciliares. Está longe de ser uma situação isolada: ela se repete ao longo dos 2.700 quilômetros do curso por cinco estados, já que a União fechou a torneira para a preservação do rio, ao mesmo tempo em que aumentou os investimentos para retirar água da bacia, com as obras de transposição.
Usando a metodologia dos auditores do Tribunal de Contas da União, que avaliaram as 41 ações do Programa de Revitalização do Rio São Francisco entre 2004 e 2011, a reportagem do Estado de Minas constatou que os investimentos da União em revitalização encolheram 68,4% nos últimos três anos – de R$ 363 milhões, em 2012, para R$ 115 milhões neste ano, segundo dados da Controladoria-Geral da União.
Do total de ações que compõem o programa, 25 simplesmente deixaram de ser aplicadas. Enquanto isso, os investimentos para a transposição das águas do Velho Chico para canais no semiárido nordestino aumentaram 47% desde 2012, saltando de R$ 703 milhões para R$ 1,035 bilhão no mesmo período.
“Em 2006, o presidente Lula garantiu que, para cada real gasto na transposição do Rio São Francisco, um real seria investido em revitalização. Só que esse nível de investimentos nunca ocorreu. A situação do rio só piorou”, considera o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Anivaldo Miranda. Hoje, a entidade destaca que o curso d’água principal e seus afluentes enfrentam a “mais grave crise de todos os tempos”.
Coordenador do Programa de Revitalização, o Ministério do Meio Ambiente admite a seca em várias ações de conservação e melhoria da qualidade das águas do Velho Chico, que agora passam por reavaliação técnica. Contudo, enquanto os recursos para aumentar a quantidade e a qualidade de água da bacia hidrográfica somaram R$ 760 milhões desde 2012 e agora estão paralisados, o aporte para as obras de transposição alcançou R$ 2,7 bilhões no triênio, e chegará a R$ 8,2 bilhões em dezembro de 2015, quando a obra deve iniciar a operação de bombeamento de água.
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Fonte: Mateus Parreiras/ em.com.br