As usinas hidrelétricas, instaladas em grandes cursos de rio por todo o País, representam a maior fatia da geração de energia no Brasil, com 62,8% de toda a capacidade instalada. Com a estiagem que acomete o País, principalmente a região Sudeste, 85% dos reservatórios estão mais baixos que em 2001, quando o país sofreu um apagão que atingiu três regiões. Afinal, quanto menos água, maior a dificuldade de produzir eletricidade: as hidrelétricas usam a força da água para movimentar suas turbinas, similares a cata-ventos, que acionam os geradores quando giram.
No ápice da crise hídrica do Sudeste – a pior “em mais de 200 anos”, segundo o professor de Hidráulica e Saneamento na Engenharia Civil da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Ilha Solteira, Jefferson Nascimento de Oliveira -, os limites da opção preferencial pelas hidrelétricas no modelo energético brasileiro se revelam. O apagão momentâneo que atingiu doze estados no último 19 de janeiro – o sistema energético é integrado, ou seja, as usinas distribuem energia para todas as regiões do país – está relacionado não apenas ao pico concentrado de consumo que teria provocado uma sobrecarga no sistema, segundo especialistas – ou uma “falha no sistema de transmissão”, de acordo com o governo – mas também ao baixo nível dos reservatórios. É o que diz o diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós Graduação e Pesquisa de Engenharia, o físico Luiz Pinguelli Rosa, que defende o racionamento de energia durante a crise. “Rápido, só o racionamento, que já devia estar sendo adotado há muito tempo”, afirma.
Segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), a energia que move o país – que tem capacidade instalada de 133,9 mil MW – é proveniente de 202 usinas hidrelétricas, 1.935 termelétricas, 228 usinas eólicas, 2 usinas nucleares, 487 pequenas centrais hidrelétricas, 497 centrais geradoras hidrelétricas e 311 usinas solares.
Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, os reservatórios estão com 17,43% de sua capacidade. No noroeste paulista, a Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, entre as cidades de Ilha Solteira, em São Paulo, e Selvíria, no Mato Grosso do Sul, é uma das mais atingidas. De acordo com a Área de Hidráulica e Irrigação da Unesp de Ilha Solteira, o município localizado a 680 quilômetros acumulou 36 milímetros de chuva até 22 de janeiro de 2015, ou seja, aproximadamente 15% da média histórica para o mês, que é de 232 milímetros. É a pior média pluviométrica desde 1992, quando o levantamento dos índices de chuva em Ilha Solteira começou a ser feito.
A queda do nível da água no rio Paraná levou o volume útil do reservatório a zero, ou seja, inferior a 323 metros acima do nível do mar, a cota mínima para operação, desde junho de 2014 de acordo com o site do ONS (Operador Nacional do Sistema), órgão responsável por gerenciar a produção e transmissão de energia elétrica no Brasil. O projeto de Ilha Solteira permite que essa cota desça a até 314 metros, limite mínimo de profundidade para não danificar os equipamentos. Segundo a CESP (Companhia Energética de São Paulo), a empresa estatal que administra a usina, a Hidrelétrica de Ilha Solteira gerou 1.117 megawatts (MW) em dezembro de 2014. O valor é 55% menor do que a energia gerada no mesmo mês de 2013 (2.026 MW). No mesmo período, o nível do reservatório, que era de 326,31, caiu para 320 metros. Em dezembro de 2014 e no primeiro mês de 2015, baixou ainda mais, para 318,77
Concluída em 1978, a Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira tem capacidade de geração de 3.444 MW e é composta por 20 turbinas – hoje, por causa da estiagem, parte delas está desligada. A hidrelétrica é a maior do Estado de São Paulo e a terceira maior do Brasil. A barragem no Rio Paraná mede 5.605 metros de comprimento e o reservatório tem quase 2 mil km² de área, estocando a água do rio para a produção de energia. Nem todas as hidrelétricas utilizam reservatórios; as usinas a “fio d’água” aproveitam a velocidade do rio para gerar energia. É o caso da Usina de Jupiá, que fica a 66 quilômetros de Ilha Solteira, entre os municípios de Castilho (SP) e Três Lagoas (MS).
Juntas, a Usina de Jupiá e a Hidrelétrica de Ilha Solteira integram o Complexo Urubupungá com capacidade instalada total de 4.995 MW. As duas usinas foram construídas quase simultaneamente pela empreiteira Camargo Corrêa e ambas são geridas pela estatal paulista. À época da construção, a CESP ainda não existia, e quem tocou as obras foi a CELUSA (Centrais Elétricas de Urubupungá S.A), mais tarde incorporada a outras cinco companhias estaduais, que dariam origem à Companhia Energética de São Paulo.
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