A água da maior parte dos rios brasileiros está em situação regular, ruim ou péssima, de acordo com dados divulgados pela organização ambiental SOS Mata Atlântica, que fez levantamento sobre a situação dos cursos d’água de seis estados do país.
Para o estudo, foram coletadas amostras de 301 pontos de 111 rios, córregos e lagos entre março de 2014 e fevereiro de 2015. Do total analisado, 61,8% estão em situação regular, 21,6% foram classificados como ruins e 1,7% apresentaram situação péssima.
Apenas 15% estão em situação boa, justamente por não estarem em áreas urbanas e sim em regiões protegidas, que contam com matas ciliares preservadas. Nenhuma amostra atingiu o patamar ótimo.
A avaliação, divulgada a menos de uma semana do Dia da Água, data celebrada em 22 de março, aponta ainda que houve uma sutil melhora na qualidade dos rios na cidade de São Paulo e uma piora nos do Rio de Janeiro, onde dos 15 analisados, 10 têm qualidade ruim.
Cidade de São Paulo
Na capital paulista foram analisados 36 rios e córregos. Segundo a organização, nenhum está em situação ótima.
Apenas o córrego da Água Preta, que fica no bairro Pompeia, na Zona Oeste da capital, recebeu classificação boa (em 2014, ele estava em situação regular). A melhora ocorreu graças a um trabalho de conservação feito por moradores da região.
Outros 19 cursos d’água tiveram qualidade regular, 15 ruins e um em estado péssimo, que é o caso do Riacho Água Podre, no bairro Butantã.
Segundo Malu Ribeiro, coordenadora do Programa Rede das Águas da SOS Mata Atlântica, houve uma sensível melhora na capital em relação a 2014, já que oito rios deixaram a classificação ruim e passaram para a regular. Outros três saíram da categoria péssimo.
Ela afirma que a evolução se deu por causa do período de seca. A falta da chuva reduziu o nível dos rios e, com isso, a água absorveu menos fuligem de automóveis e recebeu menos quantidades de resíduos sólidos, lançadas pela própria população.
“É o inverso do que sempre falávamos, de que quanto menor o nível do rio, maior a concentração de poluentes”, explica Malu.
A porta-voz da ONG disse ainda que houve uma evolução nos índices de coleta e tratamento de esgoto na cidade, o que contribuiu para a melhoria na qualidade.
Esgoto sem fim
Mas segundo Malu, não há o que comemorar. Trechos dos rios Tietê e Pinheiros não mudaram sua condição “péssima” e a chuva do início deste ano fez com que o lixo presente na capital se espalhasse pelo resto do estado.
Foi isso que prejudicou, por exemplo, a qualidade da água na região de Barra Bonita, a 288 quilômetros de São Paulo, na região central do estado.
O trecho onde o Tietê é represado acabou recebendo grande parte do lodo contaminado e lixo arrastado pelas chuvas do início do ano. A qualidade na região que já era regular em 2014, caiu para ruim em 2015.
“Em plena crise hídrica, em que o problema não é apenas a falta de água nos reservatórios, mas uma grande quantidade poluída e inútil para o uso humano, é preciso que os municípios assumam a responsabilidade da coleta adequada de resíduos sólidos e que a população deixe a falsa ideia de que a culpa do esgoto no rio é só do governo. Não está tudo bem”.
No Rio, rios vão de “mal a pior”
Na cidade do Rio de Janeiro , a situação só piorou entre 2014 e 2015. Dos 15 rios e canais analisados nos dois anos, 10 foram considerados ruins e cinco regulares.
No ano anterior, nove estavam regulares e seis tinham sido categorizados como ruins. Nenhum foi remanejado para os níveis bom ou ótimo.
Foram classificados como ruins os rios Pires, Carioca, Comprido, Trapicheiros, Maracanã, Joana e Meier, além dos canais de São Conrado, Jardim de Alah e do Mangue. Estão com qualidade regular os canais do Jockey e Visconde de Albuquerque, além dos rios Cabeças, Macacos e um segundo trecho do Carioca.
De acordo com a SOS Mata Atlântica, os cursos d’água, que surgem nas florestas e encostas da cidade, quando chegam à área urbana recebem lixo e esgoto sem tratamento. Um dos exemplos é o Rio Carioca, que tem nascente na Floresta da Tijuca.
De acordo com o secretário de Estado do Ambiente, André Corrêa, "infelizmente, o Rio Carioca, no estado de hoje, tem uma vazão maior de esgoto do que de água natural. É um corpo hídrico que a urbanização do Rio de Janeiro sufocou."
“A disponibilidade de água para o Rio de Janeiro é muito menor. E isso faz com que seja preciso avançar em coleta e tratamento de esgoto, principalmente para a diminuição do lixo nos rios”, explica Malu Ribeiro.
Melhora no estado de São Paulo
No panorama do estado de São Paulo, onde o estudo verificou a qualidade da água em 14 cidades, totalizando 53 pontos de amostras, 50,9% das análises foram classificadas como regulares, 39,6% como ruins e 3,8% como péssimas.
A avaliação deste ano também teve melhoras em relação ao quadro de 2014. O percentual de rios com qualidade ruim caiu de 58,5% para 39,6%, enquanto o índice de rios com nível regular aumentou de 30,2% para 50,9%. O percentual de rios classificados como bons subiu de 3,8% para 5,7%.
Demais estados
Outros quatros estados tiveram rios e córregos analisados neste levantamento. Em Minas Gerais, o rio Jequitinhonha, na altura do município de Almenara, apresentou situação regular.
Já o rio Mutum, na cidade de Mutum, e o córrego São José, em Bicas, estão em situação ruim. No Rio Grande do Sul, foram analisados a Lagoa do Peixe (qualidade boa), Rio Tramandaí (regular) e Lago Guaíba, na altura da Barra do Ribeiro (ruim).
Em Brasília, a análise de dois pontos do Córrego do Urubu apresentou qualidade regular. Já em Santa Catarina, o Rio Mãe Luiza, na cidade de Forquilhinha, está em situação regular.