Vale do colca, província de Arequipa, lado sudoeste do território peruano. Ali, aos pés do adormecido Misti, vulcão com quase 6 mil metros de altitude, pequenos veios d’água brotam do chão provenientes do degelo das geleiras da cordilheira andina, facilmente avistadas ao longe. Poucas centenas de metros depois, se transformam em generosos regatos. Eles dão origem ao maior rio do planeta, o Amazonas, a 5 180 metros acima do nível do mar.
Na região – de longos vales abismais a formar cânions com mais de 3,5 mil metros de altura, onde reinam os condores –, vivem populações de descendentes de povos pré-incas. Para eles, toda essa água limpa e abundante é uma dádiva. A maioria dessas pessoas sobrevive da agricultura familiar de batatas, milho e hortaliças. Também pastoreiam alpacas e lhamas, no alto das montanhas, além de ovelhas e vacas na planície à beira do rio Colca. Em agradecimento ao líquido precioso, frequentemente fazem oferendas a Pachamama, divindade máxima dos Andes peruanos, relacionada à terra e à fertilidade.
Mas há na região uma forte e corrosiva atividade de mineração de ouro e prata. Eis aí um dos perigos a comprometer a integridade da cabeceira do rio Amazonas e a qualidade e a quantidade das águas abençoadas dos nativos. A ávida procura por metais preciosos, feita sem controle ambiental, pode causar o assoreamento e a contaminação dos cursos d’água. Estradas vêm sendo abertas para escoar a produção.
Outra ameaça, ainda mais assustadora, é o rápido e anormal degelo dos glaciares peruanos. O fenômeno é estudado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS). Eles creditam o derretimento das geleiras como consequência direta das mudanças climáticas em andamento nas últimas décadas.
Tal cenário deixa no ar uma pergunta crucial: quais seriam os efeitos decorrentes de um desastre ecológico anunciado na região do vale do Colca para a integridade das águas do rio que abastece boa parte do território brasileiro, irriga e mantém viva e em equilíbrio a maior floresta tropical do mundo?
Áreas de proteção
Ainda não existem respostas concretas. O Ministério do Meio Ambiente do Peru, contudo, já considera a possibilidade de criação de uma reserva de proteção ambiental na região onde nasce o Amazonas, a fim de afastar os riscos da mineração desenfreada. A ideia foi sugerida ao governo peruano pela organização não governamental brasileira Fundação Amazonas Sustentável (FAS). Prontamente recebeu sinal positivo das autoridades do país vizinho. “Em uma primeira etapa a intenção é demarcar e proteger 15 mil hectares ao redor das vertentes formadoras do Amazonas. Mais tarde esse território deverá ser expandido”, diz o superintendente da FAS, Virgílio Viana.
Confira a reportagem no site do National Geographic Brasil