Os profundos temores da comunidade científica nacional e internacional, sobre os danos à natureza pela construção de um canal interoceânico na Nicarágua, ressurgiram com força ao ser divulgado um estudo que revela graves ameaças ambientais que a gigantesca obra representa. O informe Canal da Nicarágua. Estudo de Impacto Ambiental e Social. Resumo Executivo, foi feito pela empresa britânica Environmental Resources Management (ERM), a pedido da Hong Kong Nicarágua Canal Development (HKDN Group), a concessionária chinesa responsável pelo projeto.
O resumo executivo contém 113 páginas e compreende uma pesquisa cujo conteúdo e volume são desconhecidos porque nem o governo, nem a ERM e a HKND divulgaram integralmente o Estudo de Impacto Ambiental e Social. No resumo, a ERM assegura que o megaprojeto poder ser benéfico para o país, desde que em sua concepção, construção e operação sejam incorporadas as melhores práticas internas em matéria ambiental, econômica e social, sendo que para isso faz vários requerimentos.
Mas revela precisos riscos e ameaças ao ambiente desse país centro-americano de 6,1 milhões de habitantes e 129.429 quilômetros quadrados, que a obra partirá horizontalmente em dois ao atravessar o lago Cocibolca, também conhecido como Grande Lago da Nicarágua, o segundo maior corpo de água doce da América Latina, com 8.624 quilômetros quadrados.
Salvador Montenegro, ex-diretor adjunto do Centro para Pesquisas em Recursos, da estatal Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua, destaca que o resumo executivo sugere estudos adicionais no lago para avaliar os riscos ao ambiente e recomendar ações para mitigá-los. “São observações que venho realizando e nunca foram levadas em conta, ao contrário, nos acusam de trairmos o governo e estarmos na oposição, quando só o que fazia era tentar preservar a saúde do Cocibolca”, ressaltou Montenegro à IPS.
O cientista foi demitido do cargo na universidade por alegadas pressões do governo do presidente Daniel Ortega, no poder desde 2007 e que apoia o projeto do canal, impulsionado pela agência pró-governamental de investimentos encabeçada por seu filho, Laureano Ortega.
Agora, Montenegro integra o conglomerado de cientistas, acadêmicos, ambientalistas e ativistas da sociedade civil aglutinados no Grupo Cocibolca, abertamente contrário ao projeto do canal. Mónica López, ativista do grupo, resumiu para a IPS as principais descobertas dentro do estudo da ERM que, a seu ver, evidenciam que a obra abriria as portas para uma catástrofe ambiental sem precedentes na América Latina.
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